Jovens israelitas recusam alistamento na tropa

Manuel Raposo — 5 Janeiro 2018

IsraelDesde que, em início de dezembro, Donald Trump reconheceu a ocupação de Jerusalém Leste por Israel — pagando o apoio dos sionistas à sua eleição — protestos de várias origens fizeram-se ouvir, nomeadamente da parte da Assembleia Geral da ONU, que condenou a decisão norte-americana. É de crer, porém, que a eficácia destes protestos seja a mesma que temos visto nos últimos quase 70 anos. Basta ver o efeito prático da decisão da ONU, anulada pelo veto dos EUA. Fosse outro o alvo da decisão e não faltariam sanções a doer; mas tratando-se dos EUA e de Israel tudo vai ficando pela condenação moral, quando muito.
O que mantém viva a resistência é a luta tenaz dos palestinos no seu próprio solo. Mais de uma dezena foram mortos em confrontos com forças israelitas, perto de dois mil foram feridos e centenas presos desde a declaração de Trump. Mas vale também a oposição que se vai gerando entre os próprios israelitas. Há dias, dezenas de jovens em idade de ingressarem na tropa recusaram-se a ser alistados, condenando a política racista de Israel. A notícia, divulgada pelo Comité de Solidariedade com a Palestina, foi publicada em órgãos da imprensa israelita.

“Não participaremos na ocupação”:
Dezenas de adolescentes recusam alistar-se no exército israelita, numa carta a Netanyahu
(*)

Um grupo de 63 adolescentes declarou publicamente que vai recusar-se a ser incorporado no exército de Israel, informou o diário israelita Yedioth Ahronoth na manhã de quinta-feira.

“Decidimos não participar na ocupação e na opressão do povo palestiniano”, escreveram eles numa carta enviada ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ao chefe de gabinete Gadi Eisenkot e aos ministros da Defesa e da Educação. “A situação ‘temporária’ arrasta-se há 50 anos, e nós não continuaremos a ajudar.”

Os estudantes criticaram o governo e o exército na sua carta. “O exército está a implementar a política racista do governo, que viola direitos humanos básicos e põe em prática uma lei para os israelitas e outra lei para os palestinianos no mesmo território,” escreveram.

Os estudantes também protestaram contra “a incitação institucional intencional contra os palestinianos nos dois lados da linha verde,” referindo-se à linha do armistício de 1949 que separava Israel da Cisjordânia, “e nós – rapazes e raparigas em idade de serem incorporados, de diferentes regiões do país e de diferentes origens socioeconómicas – recusamo-nos a acreditar no sistema de incitamento e em participar no braço da ocupação e da opressão do governo. ”

A carta apela a outros para reconsiderarem a sua incorporação, acrescentando que pretendem viajar pelo país para recrutar jovens para a sua iniciativa.

“Recusamos ser incorporados e servir no exército para além da obrigação de servir valores de paz, justiça e igualdade, conscientes de que existe uma outra realidade que poderíamos criar juntos,” escreveram. “Apelamos a raparigas da nossa idade para pensarem se servir no exército pode ir ao encontro desta realidade.”

Os signatários incluem Matan Helman, de 20 anos, do kibbutz Haogen, que está a cumprir pena de prisão por se ter recusado a ser incorporado no exército.

No início de dezembro, o ministério da Educação e o IDF [forças armadas israelitas] anunciaram que estavam a elaborar um plano para aumentar o número de recrutas a serem alistados em missões de combate. Actualmente, as taxas de alistamento estão a baixar e as taxas de abandono foram de mais de 7.000 soldados masculinos e femininos anualmente.

(*) Publicado no diário Haaretz de 28.12.17 por Yaniv Kubovich


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