No limite, não houve nada

Urbano de Campos — 23 Novembro 2017

Azeredo-Lopes_reduzRaúl Solnado teria uma boa ocasião de actualizar o seu tema A Guerra de 1908 com os episódios do roubo-não-roubo de Tancos.
Como foi noticiado, o material de guerra furtado apareceu há dias no mato, a 20 km da base, tal como tinha desaparecido: sem que ninguém desse por nada, apesar das buscas que a Polícia Judiciária disse andar a fazer nas redondezas de Tancos.
Visivelmente aliviado, o Chefe do Estado Maior do Exército deu conta do êxito numa alegre conferência de imprensa. Apesar do palavreado sobre “filosofia”, “racionalização”, “erros sistémicos”, etc. etc., não conseguiu elevar o nível da conversa. Com ar de riso, confirmou até que os ladrões terão devolvido a mais uma caixa de petardos! Pequena, disse ele.

Tinha pois razão o ministro da Defesa quando, semanas antes, ainda no meio da atrapalhação, admitira que “No limite, pode não ter havido furto nenhum”. Claro, pois se o exército até ficou a ganhar uma caixa de petardos…

A tese posta a circular — que conta com o elevado “sentido de Estado” da comunicação social — diz que os ladrões, assustados, terão resolvido livrar-se do armamento a conselho de dois soldados (soldados!) que teriam facilitado o roubo. Se a tese vingar, há dois soldados à pega, mas fica salvo o bom nome das Forças Armadas, como defendeu Adriano Moreira mal a bronca rebentou. E de certo modo fica também confirmada a tese do PCP e do BE de que a culpa está no “desinvestimento nas FA” — os soldados ganham tão pouco…

Dizem que a investigação vai prosseguir. Não querendo atrapalhar, cá vai outra tese, meramente especulativa, mas de efeitos úteis: a) o roubo teve colaboração de alto nível e era tolerado, b) por um azar dos que acontecem na tropa, alguém deu à língua, c) durante 4 meses andou toda a gente (ministro, chefes militares, polícias) a ver como se descalçava a bota, d) a solução foi a entrega do material — recurso genial do tipo 3 em 1: anula o desfalque, com juros, repõe a paz nos quartéis e “devolve a confiança” aos cidadãos. Para quê então mais investigações?


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 24/11/2017, 14:27

Manuel Raposo te razão de sobra, para quê mais investigações?


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