Pagar serviços, cobrar dividendos

Urbano de Campos — 5 Outubro 2016

DENMARK-EU-SPAIN-BARROSODos muitos que se indignaram com a ida de Durão Barroso para o Goldman Sachs International, nenhum se interrogou porque é que ele, doze anos antes, em 2004, foi parar a presidente da Comissão Europeia, logo a seguir à cimeira dos Açores e à invasão do Iraque. Aí estará uma chave para perceber a ascensão à liderança europeia deste tipo medíocre e maleável, numa altura em que a França e a Alemanha e muitos outros países da União Europeia se opunham à pressão belicista dos EUA e de Bush.
A política da União Europeia sobre o Médio Oriente, o Leste europeu, e mesmo a África do Norte e Central, etc. mudou desde 2004, no sentido de uma muito maior afinidade com os interesses norte-americanos. Não foi Durão Barroso que operou tal mudança. Mas, para os EUA, ter um agente amigo encastoado num dos organismos de topo da UE foi certamente uma boa ajuda.

Que o Goldman Sachs lhe dê guarida não admira — essa ou qualquer outra instituição norte-americana de topo, com influência notória na moldagem da política imperialista. Trata-se evidentemente, por um lado, de uma paga pelos serviços que Barroso terá prestado aos EUA desde 2003 para cá; por outro lado, de uma cobrança de dividendos, feita a contar com os conhecimentos privilegiados que Barroso acumulou em dez anos de mandato.

O inquérito que Juncker (sucessor de Barroso à cabeça da CE) mandou instaurar e a decisão de tratar Barroso como um vendedor do Goldman Sachs, mais a proposta de Schulz (presidente do Parlamento Europeu) de rever o código de conduta dos dirigentes europeus, mais o abaixo-assinado dos funcionários da CE a mostrarem-se “indignados”, mais ainda a crítica “dura” afectada pelo presidente francês Hollande (“moralmente inaceitável”, disse ele) — soam a desforra sobre o “agente americano” que todos toleraram até ele se transferir para o clube de onde afinal tinha vindo; se não soarem antes a um espectáculo montado para contentar as boas consciências europeias.

Significará isto uma mudança de rumo da UE? Nada o indica. Mas toda esta agitação revela algo mais que uma simples vendetta sobre o pobre do Durão Barroso — que, num lapso digno de nota (foi a imagem que lhe veio à cabeça…), não encontrou melhor defesa do que dizer “Não fui para nenhum cartel da droga”.

Talvez a explicação para este afã moralizador das instâncias europeias esteja nas próprias ligações que Barroso tinha de há muito com o Goldman Sachs — não tanto pelas ligações em si, mas para tentar prevenir eventuais revelações que enlameiem as instituições da UE.

De facto, quando ainda era primeiro-ministro, Durão Barroso contratou o Goldman Sachs para montar o esquema de privatização da Galp e “reestruturar” a EDP (duas das maiores empresas nacionais, na altura públicas, privatizadas depois em 2006-2007). António Borges (correligionário de Barroso no PSD) era o responsável em Portugal do Goldman Sachs e o mediador do negócio. O propósito do governo de Barroso deparou com a oposição de Bruxelas — naturalmente porque a UE não via com bons olhos o papel preponderante que na operação teriam os norte-americanos, via Goldman Sachs. O contrato foi por isso cancelado e António Borges, tal como agora Durão Barroso!, queixou-se de “perseguição política”.

A este lado português da questão, acresce o papel mafioso do Goldman Sachs na Grécia. Primeiro, como assessor do governo de Atenas, encontrou artes de escamotear a gigantesca dívida grega (5,3 mil milhões de euros na altura) — acção que se estendeu de 2001 a 2009, já com Barroso na presidência da CE. De seguida, sabendo como ninguém que a Grécia estava falida, o Goldman Sachs, através de fundos seus associados, apostou 4 mil milhões no ataque à dívida grega e recolheu os respectivos dividendos com a intervenção da troika em Maio de 2010. Tudo presenciado pelas instâncias da UE, incluindo o presidente da Comissão, Durão Barroso.

Sabendo toda a gente minimamente informada que o caso tem lodo, torna-se difícil perceber porque se meteu António Costa a pedir explicações a Bruxelas sobre o tratamento dado a Durão Barroso. Por pressão do próprio sobre o PS e o Governo? Por Barroso ser… português? Por pressão do Goldman Sachs? Por respeitinho pelos interesses norte-americanos?

Triste figura a de Costa, a quem Juncker prometeu responder “por escrito”, mais tarde — como quem diz: “já te atendo”. Triste ainda por lhe ter valido o elogio do interessado: “Agiu com muita dignidade”, disse Barroso referindo-se a Costa, o que, vindo de quem vem, não é louvor.


Comentários dos leitores

António Alvão 4/11/2016, 22:29

Barroso faz parte do grupo... internacional, com várias vertentes do crime organizado, inclusive o da violência, onde fazem parte as polícias mais poderosas do Mundo, e têm como objectivo impor um governo ao Mundo! São tão poderosos que nada lhes falta!!! Penso que vocês mais saberão do assunto do que eu?


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