Contas ‘sãs’

Manuel Raposo — 6 Abril 2016

alemanhaSuperavitA Alemanha teve em 2015 um excedente orçamental de 19.400 milhões de euros, o valor mais alto desde 1990, quando o país foi reunificado. Também em 2014 conseguiu um excedente de 8.900 milhões. Estes resultados, em geral apresentados como uma façanha da disciplina das contas germânicas, posta em contraste com o “despesismo” da maioria dos países da União Europeia, não são independentes do facto de a Alemanha ser o principal aspirador da riqueza produzida na União.

De facto, as contas alemãs nem sempre foram excedentárias: em 1995, por exemplo, tinham um défice de 9,4%. O reforço do papel dominante da Alemanha na economia europeia nas últimas décadas foi determinante para a inversão desses valores.
A evolução verificada nos últimos 5 a 6 anos — justamente os anos da crise económica! — é ainda mais significativa. Em 2010 a Alemanha tinha um défice de 4,2% do PIB; em 2011 baixou-o para 1%; e em 2012 e 2013 reduziu-o para 0,1%.

Não admira que o ministro das Finanças Schäuble seja um carrasco implacável das economias mais débeis da União Europeia, como se viu no caso da Grécia e como ainda recentemente se confirmou no caso da fiscalização do Orçamento do Estado português. Ele sabe que o domínio económico (e portanto político) da Alemanha exige a defesa dos capitais germânicos que especulam com as economias da Europa do Sul.
A exigência de “contas sãs”, como repetem os discípulos portugueses do sr. Schäuble, é a garantia de que os rendimentos continuam a chegar à Alemanha em boa ordem.


Comentários dos leitores

leonel clérigo 8/4/2016, 18:08

O PRESIDENTE MARCELO e as "POLÍTICAS SÃS"
As políticas sãs, como explica MR, têm "truque": são sempre os "ricos" (como a Alemanha) que pedem aos "pobres" (como Portugal) contenção nas "despesas" e que "apertem os cintos" e não o contrário. Por isso, os "tratados" de economia burguesa começam invariavelmente com a indiscutível ladainha "científica": "os recursos são escassos"...Para uns, efectivamente que o são mas, para outros, a "abundância" anda bem perto de casa. O caso dos "offshores" proporcionam um bom exemplo disso.
1 - Como não podia fugir à "regra" dos Tratados, o economista e Financeiro Draghi veio em pessoa ao Conselho de Estado avisar que nos deixemos de tretas "igualitárias" porque a "nossa" hora é de "apertar o cinto". Como lá não estive, não sei o que ele disse mais. Mas não é preciso ser bruxo para imaginar nas "entrelinhas": ponham lá o Passos Coelho a governar que o rapaz já está "calhado" em fazer as coisas como nós queremos. O resto é pura perda de tempo e, como sabem, "tempo é dinheiro".
2 - Mas sabendo já previamente tudo isto, porque razão o "nosso" Presidente da República Marcelo RS - um PPD de "todos os portugueses" - chamou cá o Sr. Draghi? Como "argumento de autoridade" para "instruir" os "saloios" do Conselho de Estado da "indiscutível" necessidade de mais um "furo" no "cinto" dos lusos?
3 - Infelizmente que os portugueses não vão ter outro remédio senão aprender à sua própria custa, o que é a melhor maneira de se aprender. E quando virem as consequências, talvez registem nas cabeças que, quando se vai votar, não se deve acreditar nas telenovelas da TVI e da Comunicação Social em geral: os jornalistas, são invariavelmente escolhidos por pertencerem à mesma "equipa" do treinador Draghi. Por isso, ainda não entendi a "nota 18" de Francisco Louça, sabendo ser ele um estudioso economista que conhece melhor que ninguém os "meandros" da inflação. Quando se chega a certa idade, é perigoso "sonhar com ladrões"...


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