Juan Carlos: O dedo viril do império

Rui Pereira — 28 Novembro 2007

juancarlosdedo_72dpi.jpgExiste no Estado espanhol um verbo próprio para designar as acções menos conhecidas no exterior do rei Juan Carlos de Bourbon, o verbo: “borbonear”. Quando o monarca espanhol, indigitado para o trono por Franco no princípio dos anos 70, espetou o dedo em direcção a Hugo Chavez, pretendendo com o gesto, silenciar um chefe de Estado, o mundo pôde assistir à conjugação pelo próprio do verbo a que deu nome.
Este não é, porém, o primeiro dedo espetado de Juan Carlos. Na foto ao lado, o rei, de visita ao País Basco, a 25 de Junho de 2004, enfrenta de médio virilmente erecto uma manifestação independentista em Vitória, contestando a sua presença. O pouco nobre instantâneo foi escrupulosamente censurado na grande imprensa e nas televisões espanholas e do mundo. A imagem fez curta carreira nas televisões bascas e catalã, sem nunca ultrapassar o circuito das “nacionalidades históricas” e da Internet.

Contra Chavez foi o indicador, em riste, em defesa do ex-militante da Falange franquista em Valladolid, José Maria Aznar que, à frente do governo espanhol, terá directamente interferido na tentativa de golpe contra o presidente venezuelano em 2002. Isso mesmo viria a ser reconhecido pelo próprio ministro socialista dos Negócios Estrangeiros espanhol, Miguel Angel Moratinos, que a 1 de Dezembro de 2004 declarou no parlamento de Madrid que o papel do governo de Espanha dessa altura “foi apoiar o golpe, endossá-lo e oferecer-lhe legitimidade internacional”.

As maiores multinacionais espanholas, Telefónica, Repsol, Santander e outras têm importantes interesses predatórios na Venezuela. Interesses ameaçados pelas políticas transformadoras que naquele país vêm combatendo o fosso entre ricos e pobres. Uma Venezuela que enfrenta os ataques de todo o “norte ocidental” pela suposta repressão contra uma oposição que se vê quotidianamente em manifestações de rua, que tem o seus próprios órgãos de informação e que é incessantemente sujeito de notícias na imprensa internacional não pela sua repressão, mas precisamente pela sua manifestação.

Contrariamente, de resto, ao que se passa nas fronteiras do Estado espanhol onde manifestantes anti-monárquicos são detidos em manifestações de rua. Ou a julgar pelo manto de silêncio que ainda hoje envolve a participação de Juan Carlos na célebre intentona de 23 de Fevereiro de 1981. Então, a versão oficial de um rei que defendia a “jovem democracia espanhola” apareceria desmentida por declarações em tribunal de militares implicados na “Tejerada” que deixariam clara a caracterização dos acontecimentos como um “auto-golpe” do rei para segurar o seu próprio poder (ver Pilar Urbano, “Yo entré en el CESID, pp. 340 e segs). Muitos outros factos de idêntica natureza encontram-se publicados num outro livro significativamente intitulado, “Un rey golpe a golpe—uma biografia não autorizada” de Juan Carlos, assinado sob pseudónimo, (buscar em http://www.jcasturias.org/modules.php ), não vá a “monarquia constitucional” espanhola erguer contra o autor o varonil dedo da sua ira democrática.


Comentários dos leitores

Talina 2/12/2007, 2:28

O tempo em que os Reis Caudilhos de Espanha mandavam calar os dirigentes da América central e do Sul, já lá vai há muito tempo


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