Ferreira Leite e o golpe de Estado

António Louçã — 20 Outubro 2015

CONGRESSO PSDHá muitas razões e boas para olharmos com desconfiança o que eventualmente possa ser-nos apresentado, nos próximos dias, como acordo para uma “maioria de esquerda”. O PS já se encarregou de dizer que esse acordo iria basear-se na sensata viragem de comunistas e bloquistas para aceitarem o limite de 3 por cento ao défice orçamental, e na sensata abdicação das exigências de renegociação da dívidas por parte do BE. Nem o PCP nem o BE confirmaram isto, que António Costa dizia em nome de ambos.
Mas, à direita, há poucas razões, e cada uma mais esfarrapada, para objectar a esse acordo.
Não deveria surpreender-nos que uma delas tenha surgido na boca de Manuela Ferreira Leite, precisamente aquela ex-ministra da direita que ultimamente cultivava a imagem de dissidente e ia ganhando uma aura de personagem frequentável para certa esquerda propensa a buscar na direita os seus salvadores ou salvadoras.

Disse a senhora que está a ser dada aos resultados eleitorais, “uma interpretação abusiva e que corresponde a um verdadeiro golpe de Estado”. Acusou também António Costa de “fraude”, por mostrar disponibilidade para uma aliança recusada pelo eleitorado socialista.
Aqui está, nesta linguagem incontinente e tremendista, como se fala impensadamente, e como se dizem coisas para tirar uma conclusão, quando na verdade todo este discurso devia levar à conclusão contrária.

Em primeiro lugar, se Ferreira Leite interpreta melhor do que Costa o sentir do eleitorado socialista (e não digo que não), candidate-se então a secretária-geral do PS, que está a precisar de um e não tardará em abrir concurso para o lugar.
Em segundo lugar, se Ferreira Leite vê aqui um “golpe de Estado”, dê-lhe então o seu apoio. Pois não era ela quem propunha a suspensão da democracia por seis meses e não é ela quem preconiza uma solução expedita, seja lá qual for, para esta crise?


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 20/10/2015, 12:42

A burguesia santificada pela história recente, dita social democrata, vê de repente os seus ideais socializantes e liberais desmoronarem-se perante uma crise social e económica de que são responsáveis até à ponta dos cabelos. Incapazes de inverter o movimento histórico ficam histéricos logo que pressentem um sobressalto político no seu inamovível pedestal. Ferreira Leite não conteve a displicência necessária para revelar a sua "natural" boa postura democrática e desatou aos berros e desvairadamente anunciou um golpe de Estado preconizado pelo seu aliado de sempre. Enfim, um bom folhetim digno de uma telenovela de 3ª categoria. Agora só resta aguardar com alguma expectativa o próximo episódio.


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