Grécia: não à austeridade

José Borralho — 5 Julho 2015

OxiPor toda a Europa imperam as políticas austeritárias e a Grécia é a maior vítima dessas políticas. Os números não enganam sobre a devastação capitalista do FMI, da UE e do BCE, que os provocou: quebra do PIB em 25%, dívida igual a 180% do PIB, desemprego generalizado (60% entre os jovens), pobreza, destruição dos serviços sociais.

Nunca é demais repetir as causas que levaram o actual governo grego ao poder:
– A resistência dos trabalhadores à austeridade, imposta pelos governos da direita a mando da UE/BCE/FMI, através de dezenas de greves gerais, de ocupações e de combativas manifestações, que tornaram insustentável o poder burguês.
– O comprometimento dos chamados socialistas do Pasok com a mesma política austeritária da troika, o que fez deslocar as classes médias, muita juventude e também muito proletariado para a esquerda, e acabou por conduzir ao desaparecimento eleitoral dos vendilhões “socialistas”.
– As propostas moderadas do Syriza apontadas para a luta contra a austeridade, recusando dialogar com a troika. Recordar que em nenhum momento o Syriza fez qualquer apologia da saída do euro ou da UE.

Portanto, quando alguns na chamada esquerda vêm apontar dedos acusadores de capitulação ao governo grego, é bom recordar-lhes que tal governo nunca fez propostas radicais — até mesmo porque o Syriza é uma força política moderada que não põe em causa o capitalismo.
Os que apoiam o Syriza de alma e coração também sabem o que defendem. Portanto, sabemos todos quem é quem. É preciso recordar-lhes agora e sempre que só a luta firme provoca viragens à esquerda.

O governo grego teve um mérito extraordinário — está a ter — que não pode ser escamoteado nem minimizado: desde que assumiu o poder trouxe para primeiro plano a discussão política sobre os planos da troika e da UE para os trabalhadores e para os povos, levando os governantes burgueses a desmascarar a sua falsa democracia e a revelar o único plano que a UE e o FMI têm para os povos: a austeridade, os cortes, o empobrecimento, a exclusão de milhões de trabalhadores do processo produtivo e o seu lançamento no desemprego, na emigração, na precariedade permanente.

Em suma, os governos dos dezoito países que odiosamente se lançaram contra o governo grego, puseram a nu que a democracia que defendem não passa de uma fachada apoiada em minorias de votantes arregimentados para manter a máquina do capital a funcionar, e que a única receita que conhecem para oferecer ao povo é a ditadura, e dessa forma se mantêm no poder.

O governo do Syriza está numa encruzilhada: de um lado tem os vampiros que se uniram para esmagar o povo grego e prosseguir na senda da austeridade, do outro lado tem não apenas os seus eleitores, mas toda uma enorme massa de povo farta de austeridade e que ainda hesita no caminho a seguir.
Como sempre, a pequena burguesia tem um pé nas lutas dos trabalhadores e outro nas soluções que pretende moderadas. Por isso mesmo, o seu plano é manter a Grécia no clube da UE.

Tomemos como certo: a dívida da Grécia é impagável e o seu brutal desemprego, de uma maneira ou doutra, não vai diminuir porque o crescimento económico está bloqueado pela crise, a miséria das massas prosseguirá e nenhuma ilusão na prosperidade através da UE será verdadeira.

Dizer não à austeridade e não no referendo.
Rejeitar o pagamento da dívida.
Desmascarar a UE e todas as suas instituições.
Prosseguir a luta que cada vez mais é uma luta de todos os trabalhadores europeus.
Dar conteúdo anticapitalista aos objectivos da luta, o que implica o combate à UE do capital, e a luta para que seja o capital a pagar a crise e por um novo sistema social.
Abaixo a ditadura do capital, mascarada de democracia.
Precisamos de lutar por uma democracia para a esmagadora maioria — a democracia proletária.


Comentários dos leitores

António Alvão 15/7/2015, 23:32

Fala-se muito em democracia burguesa - eu não conheço outra que não seja burguesa, quando é tratada pelos políticos profissionais e pelo estado. A democracia tal como a definição do grego é estruturada no seio do próprio povo, através da autonomia dos municípios, comunas, cooperativas, federações mutualistas, etc. Onde a democracia funciona nas assembleias populares. Chama-se a isto, uma sociedade de cooperação entre tudo e todos, e não de competição capitalista, onde o mais forte endinheirado ganha sempre, provocando as injustiças, o caos, a desordem, através do crime organizado do próprio poder! Mas a primeira via, o parasitismo político recusa, porque assemelha-se a Anarquia, e já não dá para o enriquecimento corrupto e a curto prazo. Uma sociedade injustiçada pelo próprio poder, é para ser posta a ferro e fogo, até à construção da sociedade justa e comunitária - o comunismo! E não, o anti- comunismo, capitalismo de estado, autoritário ou ditatorial com o nome de comunismo, para enganar os povos! Não foi assim no passado, e não é ainda hoje?


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