A luta diária tem um objectivo: a conquista do poder

José Borralho — 24 Fevereiro 2015

bandeirasA prática é absolutamente necessária a todos os militantes que se empenham numa causa popular e ainda mais àqueles que se reivindicam de marxistas. Mas sem a teoria a dar consistência a essa prática, não vão longe; ficam para sempre enredados na reivindicação no quadro do sistema capitalista.
O mesmo se aplica aos que reclamam ser “anti-sectários”, sempre a levantar a bandeira da abertura às diversas classes, confundindo-se com elas, perdendo-se nelas, fundindo-se com elas numa degeneração reformista. Em nome do anti-sectarismo acabou por se abandonar a perspectiva comunista de conduzir o proletariado na via da revolução social e da tomada do poder político.
O que corrompeu a luta dos comunistas pelo poder, desde os anos 30 do século XX, foi a fusão de interesses entre o proletariado e a pequena burguesia.

Nos tempos que correm — em que, com o desenvolvimento do capitalismo, são maiores as dependências e interligações das classes burguesas de cada país ao imperialismo, e em que sobressai com maior evidência a contradição trabalho-capital — com mais acutilância se coloca a ligação da teoria com a prática. A actual luta anti-sectária reduziu a esquerda a uma inócua luta pelos ideais democráticos comuns à maioria do povo, a desprezar e abandonar a luta do proletariado pelo fim do capitalismo.

Concretizando: devem os marxistas apoiar as posições do governo grego contra a austeridade? Sim, sem dúvida. E devem fazê-lo apesar de saberem que esta é uma luta parcial e por isso mesmo não a desligam nunca da perspectiva de ganhar as massas para a ruptura com o capitalismo, e por isso não se fundem com as reformas em curso.
Devem os marxistas participar na luta contra a privatização de uma empresa? Sim, claro, mas sempre com a perspectiva da defesa dos postos de trabalho e dos direitos dos trabalhadores. Aliás, a defesa do capital nacional e da manutenção do sector empresarial do Estado tem sido desde sempre uma luta do movimento sindical, e os êxitos dessa perspectiva de luta nacional estão à vista; essas empresas estão todas entregues ao capital estrangeiro. Portanto: a luta é entre o trabalho e o capital, seja nacional seja estrangeiro.
Devem os marxistas meter-se pelos caminhos ínvios da renegociação da dívida do país, ou devem exigir que seja o capital a pagar a dívida através de impostos e da taxação das suas fortunas?
Devem os marxistas defender a todo o custo o crescimento da economia, ou devem erguer as reivindicações do trabalho?
Devem os marxistas combater todo o capitalismo, e com o proletariado levantar as reivindicações económicas, políticas, anti-imperialistas e populares, ou devem defender as micro, pequenas e médias empresas tratando estas classes como aliados?
A pressão da luta de classes vai-se agudizando e é natural que alguns activistas se sintam confusos; e nessa situação é mais fácil refugiar-se nalguma pequena prática, (sempre necessária), mandando esperar a teoria.

Estamos numa crise profunda e crónica do capitalismo. O seu arrastamento está a tornar o mundo insustentável. O capitalismo mostra-se sem capacidade de satisfazer as reivindicações proletárias e populares. É este o quadro que a luta de massas hoje enfrenta e não pode ignorar.


Comentários dos leitores

António Alvão 1/3/2015, 15:58

Ao lermos este artigo de José borralho, ficamos bem impressionados com os marxistas, parece tratar-se de grande valor ético dos marxistas. no campo das lutas sociais e de poder, infelizmente não é assim a partir dos anos 20 do século passado ...
Neste momento temos marxistas gregos do partido comunista a fazer coro com os da extrema direita atacando os marxistas que estão no poder.
Não se sabe de que marxistas fala José Borralho - se dos stalinistas/maoistas, se dos da quarta internacional, se dos da terceira internacional pró-soviético (antes da derrocada) - todos estes grupos se reivindicam do marxismo e, andaram a matar-se uns aos outros dezenas de anos por causa do poder. Quem estudar Marx e estude o carácter dos marxistas que já foram poder e os que ainda hoje são em alguns países, ficamos agoniados com tanta contradição. Não costa nada dizermos que somos isto ou aquilo. A revolução do amanhã será também contra este refugo marxista de que estou a falar.

António Jorge 29/3/2015, 0:19

O comentário à proposta do abandono da luta mais ampla das camadas democráticas e anti-capitalistas numa via mais estreita e revolucionária, é questão que implica uma tomada de posição que terá de ser mais profunda e reflectida, para eu poder emitir um comentário agora - Não sei de facto se em tempo de globalização e nesta fase da possível vitória de uma parte significativa do Mundo, que se reclama da globalização Multi-polar (Rússia, China, União Indiana, Brasil, África do Sul) e consequentemente da derrota da proposta Unipolar do imperialismo americano e seus submissos apêndices (Europa e Japão).
Assim prefiro responder para já ao mais fácil e obvio, o comentário do senhor António Alvão e das suas criticas aos vários marxismos e suas experiências. Esqueceu-se de dizer este senhor tão bem informado do papel de traição à causa do socialismo e do marxismo, os ditos socialistas ligados à II Internacional no seu papel de traidores, como foram no apoio às suas burguesias nacionais e ao lado da guerra imperialista de 1914-18, contra o proletariado e o povo da Europa,...
tal como ainda ocorre hoje, sob diversas formas da utilização da palavra socialista - democrático, de rosto humano, personalizado, em liberdade e que mais não é do que capitalismo aliado ao fascismo, como aconteceu e acontece ainda hoje em Portugal, ligados à contra-revolução do 25 de Novembro e responsáveis maiores pelo rumo de agonia e morte que invadem Portugal e atiraram para a miséria o povo português. Ainda não disseram ser partidos que tal como o PSD e o CDS, serem partidos todos iguais e dependentes e ao serviço do Clube de Bilderberg.

Licínio Saraiva Sousa 22/4/2015, 0:50

O COMECON e o "muro de Berlim" sinais da falencia da tal democracia avançada já foram há muito. Imergem agora as tentativas hegemonistas dos MERCOSUL para domesticar a América Latina e trazer ao seu rebanho a velha Cuba que há décadas deixou de ser uma imagem de libertação e internacionalismo libertador,
O que esperam os Marxistas desta Europa para darem sinais de si em relação á necessidade de em cada um dos países que compõem a U.E. responderem de uma moda Grega em relação aos que teimam em manter tudo como se nada tivesse acontecido na falência de uma arquitectura politica que deixou há muito de corresponder aos anseios da esmagadora maioria dos Povos que a compõem?
Sou um dos que pensam que há que começar o primeiro dia do inicio das nossas vidas rumo a uma sociedade que corresponda aos anseios das vozes que se levantaram na Grécia,que se estão a levantar na Espanha e de que em Portugal embora de uma forma tímida apontam num mesmo sentido: Resgatar Portugal para um futuro melhor, enfrentando todos aqueles que com ideias velhas e relas teimam atrelar as lutas do Povo trabalhador e campesinato pobre ás suas receitas do passado que não correspondem nem de perto nem de longe á viragem de página que a situação política de barbárie que o nosso mundo atual exige.
A última entrevista de Ana Drago e outras propostas embora que pareçam desgarradas como as do MRMT vão no sentido de se quebrar um certo "uni citarismo" que há tempo demais se têm vindo a aproveitar do facto de que em relação á tal esquerda tradicional nada de novo haveria de se protagonizar. A Grécia fez soar as "trombetas" mas os marxistas dialécticos e revolucionários não podem ficar no deleite e saudação das ações dos outros sob pena de podermos estar a enfraquecer a luta daqueles que mandaram para as calendas PASOKS e PKKs.
Erguer uma frente unida com todos aqueles que na madrugada do Abril em Portugal se ergueram e por algum tempo impuseram uma vida melhor para todos impõe-se!!!...È desse internacionalismo que os Gregos,Espanhóis, Italianos,etc.etc. exigem sob pena de continuar a barbárie a que a Rosa Luxemburg aludia e pela qual deu a sua vida nos tempos "hitlerianos" e que agora de formas mais ínvias nos interrogamos sobre os papeis que desempenham as senhoras Le Pen em França e Merkl na Alemanha.
Para quando o pontapé de saída e o inicio de caminhada com ou sem Louçãs,Jerónimos ou Costas?-Estamos na hora de avançar ou não???


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