Conversa para estúpidos

Carlos Completo — 7 Dezembro 2014

pobreza_00000Passos Coelho, num jantar de natal das concelhias do PSD de Santarém, dizia que o seu Governo estava a conseguir “libertar e democratizar” a economia, que estava “aprisionada por grupos económicos”, e que “os donos do país estavam a desaparecer”. Claro que aqui há mais uma tirada demagógica de Passos, para, a propósito da falência do Grupo Espírito Santo, tentar captar votos dos tolos! Na mesma linha de efabulação, em Braga, num seminário sobre economia social organizado pela União de Misericórdias, o chefe do governo afirmava que quem mais contribuiu, em altura de crise social, “foi quem tinha mais” e não “os mesmos de sempre”.

Mas confrontemos o argumentário de Passos com uma realidade, em grande parte resultante da sua governação.

No campo empresarial: a ANA e a PT foram vendidas, respectivamente, às francesas Vinci e Altice. A EDP, a REN, a Fidelidade e o Hospital da Luz passaram quase totalmente para mãos chinesas, particularmente da State Grid e da Fosun. A Galp, a Zon e algumas empresas de comunicação social estão sobretudo em mãos angolanas, particularmente de Isabel dos Santos. E por aí fora. Assim, no essencial, e ao contrário do que diz Passos Coelho, os donos do país não desapareceram, houve apenas uma transferência de mãos: alguns dos donos de Portugal mudaram de país e de continente.

No campo laboral, os trabalhadores portugueses foram gravemente atingidos pelo desemprego e pela precariedade e viram os seus salários e direitos fortemente diminuídos. Centenas de milhares de desempregados passaram a viver sem subsídio. Outras centenas de milhares emigraram. Grande parte dos reformados viram as suas pensões diminuídas e muitos outros milhares perderam subsídios de reinserção social ou o complemento solidário para idosos. Também as classes médias foram rapidamente empobrecendo. Assistiu-se, de facto, a uma transferência violenta de riqueza das classes trabalhadoras e do povo para as mãos do capital, o que é de algum modo comprovado pelo agravamento das desigualdades na sociedade portuguesa verificado nos últimos anos.

Depois de tudo ao que as classes trabalhadoras e o povo foram submetidos pelo governo de Passos Coelho, quem ouve e ainda acredita no que o mitómano e actual chefe do governo afirmou em Santarém e Braga só o pode fazer por imbecilidade, por predisposição a cair/alinhar no conto do vigário e, perante isto, pouco ou nada se pode fazer em termos de transformação mental dessa gente.
 


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