Na morte de Rui Tovar

António Louçã — 14 Julho 2014

RuiTovarO Mundial de 2014 concluiu-se apenas com Messi a jogar até ao fim. Começou logo sem Ribéry, perdeu Ronaldo nos oitavos de final, Neymar nos quartos de final. Mas a grande perda que sofreu o futebol foi Rui Tovar, durante décadas a referência do jornalismo desportivo.
À notícia da morte de Rui Tovar, sucederam-se as expressões de admiração pelo seu saber enciclopédico. Expressões justas, sem dúvida, a que nada posso acrescentar.
Há, no entanto, um outro lado menos conhecido de Rui Tovar. Trabalhei com ele, durante vários anos, na RTP Memória. Ao vê-lo no mesmo barco, comecei por surpreender em mim próprio um preconceito, relativamente difundido, que o dava como pessoa situada politicamente à direita. Vários tropeções da vida tinham-lhe colado essa etiqueta.
 
Seja como for, a simpatia de Rui Tovar rapidamente fez dele um amigo. E nas conversas com esse amigo vim a saber que fora a sua tenaz oposição ao lobby da Olivedesportos que o fizera cair em desgraça e o remetera para um papel completamente desajustado ao seu prestígio profissional.
 
Ora, esse desperdício de talento que bradava aos céus chamou a atenção de um dos editores do desporto na RTP, que começou a convidá-lo para vários trabalhos. Um deles envolvia deslocação a Londres para fazer o relato de um jogo importante – Rui Tovar certamente se lembraria qual foi, mas eu já não sei. Deu-me a notícia, radiante.
 
Custou-me atirar-lhe um balde de água fria: “O dia do jogo é o dia que está marcado para a greve”. Perdeu o sorriso radiante, mas nem pestanejou: “Então não vou”. Não foi. Esteve connosco no piquete de greve. Era assim o nosso Rui Tovar.


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