Patrão fecha a MECOIN com cinco meses de salários em atraso

16 Novembro 2007

mecointondela72dpi.jpgOs trabalhadores da fábrica Mecoin, na freguesia de Nandufe (Tondela, Beira Alta), estão em luta. A administração encerrou a empresa na terça-feira, dia 6, deixando os 40 operários com cinco meses e meio de salários em atraso. A Mecoin é uma metalúrgica de componentes para automóveis, o que – como o MV comentou há dias, em “Despedimento colectivo redobra” – “contraria a ideia de que são os sectores de menor qualificação profissional ou de capitalismo atrasado (com menor produtividade) os mais atingidos pelo desemprego”.

Os trabalhadores mantêm-se em vigília à porta da empresa, para impedir a cena do costume: o roubo das máquinas, das matérias-primas e dos stocks pela administração da empresa.

Um amigo do MV em Tondela, que contactou o piquete de vigilância dos trabalhadores que, entretanto vêm recebendo solidariedade dos seus colegas de outras fábricas, conta: “Na curta conversa que tive com uma pessoa que está acompanhando regularmente junto dos trabalhadores toda a luta, ainda que não seja um trabalhador da empresa, fui informado de que os trabalhadores fazem piquetes e barricam quem, em qualquer situação, queira tirar máquinas ou matéria prima. Além disso, estão a receber informações contraditórias continuamente:
– Alguém da Inspecção do trabalho contactou-os pela manhã, dizendo que a fábrica está pronta para eles trabalharem e que era deles a responsabilidade de não estar a laborar.
– Um administrador, também esta manhã, disse-lhes que tudo se iria resolver para manter a fábrica e os postos de trabalho.
– Um dos patrões, já pela tarde, ao contrário, reafirmou a intenção de fecho e dos seus direitos de fazer o que melhor entendesse à maquinaria e pertences da empresa.

E prossegue: “Os trabalhadores pensam que, a todo o momento, pode ser mesmo hoje ao final do dia, a ‘coisa’ pode endurecer e, como tal, dirigiram-se à GNR para avisarem da situação da empresa, da luta que travam, no sentido de impediram situações desagradáveis. Ao chegarem à GNR depararam com o patrão a pedir protecção policial!

Salienta-se que em Tondela, onde mesmo após o 25 de Abril (1974, 75 e 76 e anos posteriores), havia represálias para quem ousasse, sob qualquer forma, lutar pelo que tinham direito. Nessa altura, mantiveram-se todo um conjunto de injustiças, repressão indirecta que se estendia a familiares das pessoas envolvidas e mesmo de mobilização de grupos reaccionários que faziam de cada um desses sinais, movimentações de ‘verão quente’. Esta luta tem uma importância redobrada, por ser a primeira vez que os trabalhadores em Tondela, assumem de uma forma pública a defesa dos seus direitos.”

Entretanto, a notícia desta luta foi também divulgada por um despacho da Lusa, publicado no JN (de onde extraímos a foto acima) e pela SIC-Notícias online.

Os trabalhadores, que já apresentaram uma providência cautelar nesse sentido ao Tribunal de Tondela, tentam impedir a saída de camiões com material da empresa. Há vários dias que se revezam à porta, dia e noite, pernoitando em tendas de campismo. Entretanto é denunciado o facto de os administradores se terem gabado, “com algumas risadas, junto dos trabalhadores, das viagens que faziam nas férias” ao Brasil e ao Paraguai, sem pagarem os salários aos trabalhadores.

Joaquim Figueiredo, antigo trabalhador [da empresa], disse à SIC que não entende porque é que a fábrica fechou “com tanto serviço que tínhamos e tantos clientes. Houve má gestão nisto tudo”.

“Temos de salvaguardar algum património da empresa para que nos paguem”, afirmou José Manuel Rebelo, um dos trabalhadores que vigiam a fábrica.


Comentários dos leitores

M.Costa 18/11/2007, 21:14

Não sei se será publicado ou não, mas aqui fica o meu depoimento:
Tem todo o direito de proteger os seus direitos, proteger as máquinas e haveres da empresa estou de acordo, só não entendo é como bloqueiam os haveres dos clientes que lhes foram garantindo trabalho.
Com este bloqueio ás instalações, estão a prejudicar a entidade que lhes foi dando trabalho ao longo do tempo, este bloqueio poderá influenciar que os investidores estrangeiros, apostem cada vez menos em Portugal.
Esta tomada de atitude, reprovável a todos os níveis para a economia do concelho de Tondela, está a prejudicar outra empresa que nada tem a ver com este caso.
Estamos solidários com a luta, quando é justa e honesta, reprovamos a luta mesquinha por parte de alguns trabalhadores, interessados no protagonismo e com ódio e inveja á mistura.
Alguns trabalhadores, desta empresa, foram acusados de traidores, mas foram parte deles que ao longo dos últimos 2 anos estiveram sempre presentes.
Trabalharam sempre, nunca deixaram de terminar as encomendas para sair mercadoria para os clientes.
Foram esses os apelidados de "traidores" que lutaram dias e dias por uma causa que seria a do bem para todos, esses sim foram traídos pelos protagonistas do cerco.
A administração tem culpas infindáveis, e sabem-no bem, no degradar da situação, também estão pessoalmente em piores condições que a maioria dos trabalhadores, reconhecemos, mas também viveram á sombra.
Saúde-se a entrada nas instalações do Gestor Judicial, e terá logo á partida trabalho redobrado, o saber quem e como roubaram peças importantes das máquinas uma vez que a vigília e guarda, estava montada ás instalações pelos trabalhadores da mesma empresa e não só.
Este tipo de desaparecimento é crónico nestas situações, tentam desviar atenções para terceiros, mas naa prática corrente sabemos como é.
Vou contar uma história comum a muitas outras, os trabalhadores na sua consciência deverão tirar as suas ilações.
Determinado comprador, foi levantar uma máquina de uma empresa falida e deparou-se com um antigo trabalhador dizendo " essa máquina não trabalha, falta a peça mais importante para que trabalhe, se quer que lhe seja util a máquina terá que negociar comigo a peça "
Tirem as ilações que quiserem

SUPOSTOS TRAIDORES 18/11/2007, 22:19

Relato da Notícia
Tondela
Operários à porta de fábrica para “segurar” património
Os operários de uma fábrica do concelho de Tondela, que deixou de laborar na semana passada, permaneceram, ontem, junto à entrada, de forma a impedir que as máquinas sejam retiradas e percam assim forma de reaver salários atrasados.
António Marques Ferreira é um dos 15 empregados da Mecoin, Indústria de Componentes Metálicos, SA, sedeada na freguesia de Nandufe, concelho de Tondela, que ao final da tarde de ontem se encontrava à entrada das instalações onde trabalhou quase duas décadas.
ESTE SENHOR É REFORMADO E PEDIU AO PATRÃO PARA O IR MANTENDO AÍ, TINHA MAIS UNS NETOS PARA SUSTENTAR,
FOI DITO QUE TERIA QUE IR EMBORA PELO PATRÃO, TERIAM QUE REDUZIR PESSOAL E ESTE SENHOR CHOROU PRÓ MANTER AÍ.......COISAS DA VIDA
Contou que a fábrica deixou de laborar terça- -feira e que há três dias que se vão "revezando para impedir que tirem daqui as máquinas". "Se retirarem de cá as máquinas e o património que sobra, nunca mais nos pagam os salários".
António Marques Ferreira relatou que "ao todo são cerca de 30 funcionários com salários por pagar. A maioria tem em falta cinco meses e meio de ordenados e os subsídios de férias e Natal".
Fernando Marques, um dos operários, contou que no sábado tentaram impedir que "um camião com cerca de 17 toneladas de material fosse retirado. Disseram que era sucata, mas na verdade tinham material que dava para laborar". Também na sexta--feira, "fomos surpreendidos, sendo traídos por dois ou três colegas que ajudaram a que levassem algumas máquinas, entre as quais um robot, tudo com um valor aproximado de 50 mil euros", relatou.
O QUE ESTE SENHOR AFIRMA É MENTIRA AS MÁQUINAS ERAM DOS CLIENTES, AS MÁQUINAS QUE VALEM 50 000 EUROS SÃO PROPRIEDADE DA BESLISING ENTIDADE DETENTORA E PROPRIETÁRIA DAS MÁQUINAS.......
OS TRAIDORES AJUDARAM A CARREGAR UNICAMENTE O QUE NÃO É DA MECOIN.....A JUSTIÇA JULGAR-NOS-Á
A Lusa tentou contactar o sócio-gerente da Mecoin, que se escusou a prestar declarações.

Redacção 5/12/2007, 18:57

Caro Leitor:
É notório nos seus dois comentários que vê o assunto pelo lado dos patrões. Tanto na questão dos salários em atraso, sobre os quais não diz uma palavra; como na questão das máquinas.
Pelo que afirma, as máquinas devem ter sido adquiridas em regime de "leasing". Seja como for, que importa isso do ponto de vista dos trabalhadores? Serem de um patrão ou de outro nada conta para o caso - é um assunto entre empresas. O que importa é que foi com essas máquinas que os patrões da Mecoin exploraram a mão de obra que agora despedem e à qual ficaram a dever. Achamos, portanto, inteiramente legítimo que os trabalhadores as retenham para terem alguma garantia de pagamento do que lhes é devido ou mesmo para tentarem manter os empregos.
Saudações,
A redacção

Redacção 5/12/2007, 19:17

Caro Leitor:
Se diz que a administração "tem culpas infindáveis no degradar da situação" então será por esse prisma que toda a questão deve ser julgada - e não virar o bico ao prego lançando acusações sobre os trabalhadores.
Quanto aos roubos que insinua ter havido, convidamo-lo a ler um texto que publicamos com o título "A velha toupeira". De qualquer modo - já para não falar do nível dos próprios salários - perguntamos-lhe se não considera roubo despedir trabalhadores e ficar a dever-lhes salários.
Saudações,
A redacção


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar