O poder é surdo à voz dos eleitores

Colectivo Mudar de Vida — 27 Setembro 2013

A uma semana das eleições autárquicas, uma estação de rádio divulgou uma sondagem em que 55% dos inquiridos achavam que a campanha eleitoral em nada os esclarecia e 45% não tinham opinião; nem um achou que a campanha valesse a pena. Independentemente dos números, é esta a imagem da relação dos eleitores com os eleitos.

De facto, de ano para ano, não apenas as autárquicas, mas também todas as demais eleições, motivam crescente desinteresse, abstenção e até mesmo repulsa da parte dos eleitores. Que outra atitude seria de esperar quando os candidatos das forças do poder prometem o que não vão cumprir, mentem abertamente para ganhar votos e, uma vez eleitos, se gabam mesmo de levar a cabo medidas antipopulares como sinal de pulso forte? Que seria de esperar quando a experiência prática de quase cinco anos de austeridade mostra às classes trabalhadoras que a função do poder é forçar os de baixo a pagar os custo da crise dum sistema capitalista em ruptura?

Não se está diante de uma “desvirtuação” do regime democrático representativo a pedir medidas correctivas. Trata-se do facto de o regime apenas representar os poderosos — e, cada vez mais, um núcleo reduzido de poderosos, que detém a força económica e reserva para si, logicamente, a força política.

De pouco servem, num quadro destes, os apelos à “cidadania activa”, à “aproximação” entre eleitos e eleitores, aos “orçamentos participativos” e outras vacuidades que esbarram no facto palpável, à vista de todos, de que o poder é surdo à voz dos eleitores justamente por ser incompatível com os interesses populares.

No último ano, o que fez tremer o governo foram as greves gerais e as grandes manifestações de rua contra a austeridade, culminando as acções de resistência de inúmeros sectores de trabalhadores. Em contrapartida, o abrandamento dessas lutas deu campo à vocação de bombeiro do PS que agiu no sentido de colmatar as brechas abertas na coligação. A lição é simples: sem a luta de massas tudo volta para trás e o poder reequilibra-se.

Por isso mesmo, o governo, representando todos os sectores dominantes do capital, se sente com força para lançar uma nova vaga de austeridade, atingindo não apenas os pensionistas e os funcionários públicos mas todos os trabalhadores.
A chantagem é o método. Antes de mais, sobre os trabalhadores: ou aceitam já cortes nas pensões, mais horas de trabalho, menos Saúde, Educação e Segurança Social ou será pior com novo resgate a mando da Troika. Depois, sobre o Tribunal Constitucional, para fazer passar por legal o que é uma descarada violação de direitos à sombra das “condições especiais do país”.

Não é pelo facto de serem locais que as eleições do dia 29 deixam de colocar o problema de fundo que o país vive: é o regime por inteiro que está podre. Atacá-lo pela base não é um “desvio” das necessidades imediatas dos trabalhadores e das populações pobres, mas sim a condição de lhes responder sem criar ilusões.

Às medidas do governo e da Troika, à política de austeridade têm de ser contrapostas as exigências que respondem às necessidades populares: o capital que pague a dívida, trabalho para todos, combate à pobreza, justiça social.

Não votes nos partidos da Troika, não votes nos partidos de quem te explora.

Colectivo Mudar de Vida
25 de Setembro de 2013


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