A dança dos tachos

Pedro Goulart — 29 Agosto 2012

Raros são os dias em que não observamos uma dança especial, um certo tipo de movimento mercenário em direcção aos tachos no aparelho do Estado, nas chamadas empresas públicas ou até nas empresas que o actual governo vai privatizando (favores com favores se pagam!). Durante as últimas décadas, com governos do PS, PSD e CDS (isolados ou em sociedade partidária), este tipo de movimento foi particularmente visível nos períodos anteriores às eleições legislativas e à tomada de posse de novos governos. Ou, então, logo a seguir a estes tomarem posse, quando pertenciam a partidos políticos diferentes dos integrantes do governo anterior. E, ao longo do tempo, fomos assistindo a uma contínua movimentação (claramente promíscua) de gestores e governantes entre o aparelho de Estado e os negócios privados.

Apesar das ditas boas intenções de António Guterres que, após as eleições legislativas de 1995, afirmava “No jobs for the boys”, a verdade é que o movimento de assalto aos tachos prosseguiu. Nisto de declarações de princípios e de promessas eleitorais dos políticos burgueses não se pode confiar. Veja-se o que, por exemplo, afirmaram Sócrates ou Passos Coelho nos anos mais recentes. E o que fez o primeiro e o que ainda continua a fazer o segundo!

Nos últimos tempos, com o élan das privatizações e a particular voracidade evidenciada pelos chamados neoliberais, o movimento dos tachos tem assumido proporções escandalosas. Com filhos, primos, amigos e diversa gente dos partidos do governo PSD/CDS envolvidos na corrida para gestores e administradores. E com centenas de assessores e “especialistas”, videirinhos, agarrando situações de privilégio. Tem sido um “fartar vilanagem”. Eduardo Catroga, Celeste Cardona, Teixeira Pinto, Braga de Macedo, José Luís Arnault, Manuel Castelo-Branco ou Miguel Moreira da Silva, são apenas uma pequena mas significativa amostra deste tipo de vampiros.

Apesar da indignação suscitada em muitos, não é caso para admiração: o movimento dos tachos, mais camuflado ou mais às claras, mais rápido ou mais lento, é inerente ao próprio capitalismo.


Comentários dos leitores

António Veríssimo 31/8/2012, 9:40

Pedro
tomei a liberdade de publicar o teu texto no facebook no grupo PENSO, LOGO EXISTO.

Pedro Goulart 2/9/2012, 15:51

António
Tudo bem. Interessa divulgar e pensar sobre os problemas


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