O Estado policial

7 Novembro 2007

Causou escândalo, mas não surpreendeu, a afirmação do Procurador Geral da República de que as escutas telefónicas estão sem controle. Soube-se, só agora, que entre 2003 e 2005 foram feitas mais de 26 mil escutas, ficando no segredo do poder quantas terão sido feitas de 2005 para cá. Aproveitando a maré, o ministro da Justiça reclamou uma revisão constitucional que dê às “secretas” o direito de também fazerem escutas. Junte-se a isto o reforço de verbas do orçamento de Estado para a compra de armamento para polícias e militares; os propósitos de instalar vídeo-vigilância em bairros “críticos”; a colaboração das polícias ibéricas a pretexto da prevenção do “terrorismo”; o caso da intromissão policial num sindicato na Covilhã – e não é difícil ver em tudo isto um plano em avançada concretização.

O Estado policial corresponde a uma necessidade de segurança acrescida das classes dominantes quando se torna cada vez mais gritante o fosso entre pobres e ricos, quando o trabalho integra cada vez menos pessoas e cria um exército de gente marginalizada. Incapaz de cativar a massa trabalhadora pela melhoria real das condições de vida – ou sequer pela ilusão de uma melhoria – o capitalismo procura debelar os anseios individuais e sociais pela força, investindo nos meios de repressão.

Os 20% mais ricos precisam de se sentir seguros contra a inevitável revolta dos restantes 80%. Eis porque se pode dizer que o reforço dos meios de repressão, a pretexto da “segurança dos cidadãos” e da “prevenção do terrorismo”, visa na verdade as lutas sociais que afrontem o capitalismo. A passividade com que a população vem suportando a usurpação diária dos seus direitos e dos seus ganhos materiais esconde a gestação de confrontos sociais que o mundo não viu antes. As classes dominantes antevêem-no e colocam os seus dispositivos de defesa em campo. A maioria que vive do trabalho tem de preparar-se igualmente para uma resposta de classe à ofensiva que a vai esmagando.


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