A grande sangreira

J. Félix — 1 Novembro 2007

Ao mesmo tempo que o Estado concede milhões e milhões de beneficios fiscais e de toda a ordem às empresas e aos ricos, tem necessidade de ir buscar a compensação desse dispêndio aos serviços públicos.
Nessa enorme sangreira, destroem-se serviços de saúde, aniquilam-se escolas públicas de todos os graus, caluniam-se e precarizam-se milhares de trabalhadores, tudo em nome do Grande Manitú, a economia nacional. Mas de que economia se trata, afinal? Daquela que procede à afectação de recursos para satisfação das necessidades da população e da preservação do equilibrio ecológico, ou a da maximização dos lucros por parte das empresas e do crescimento descomunal das fortunas pessoais dos seus proprietários? Desemprego, precariedade, trabalho parcial com salário parcial, polivalência, mudança de local de emprego, tudo vale para glória dessa abstracção, a sacrossanta economia nacional, púdico véu destinado a encobrir algo bem mais vil, a sede do lucro e da ganância.
Para agravar a situação da maioria da população e favorecer uma minoria, os senhores do poder utilizam o pretexto da obtenção de um orçamento do Estado com uma diferença entre as despesas e as receitas estatais (déficite) abaixo dos 3% da riqueza produzida anualmente no país (PIB), conforme obrigam as normas da União Europeia. Esta imposição tão reclamada e nunca explicada, prende-se sobretudo com a garantia do pagamento aos credores do Estado, por dívidas com despesas para as quais não fomos ouvidos nem achados. Através dos impostos e redução efectiva do rendimento dos trabalhadores, os governantes esmifram cada vez mais quem trabalha, ou seja, aqueles que lhes garantem os elevados ordenados e as sumptuosas mordomias. Reduzir as despesas, sobretudo nos sectores essenciais, como a saúde e a educação, é a saída óbvia que os governos seguem. É preciso manter os privilégios dos ricos e dos “homens de estado”. Mas não há memória de um político desempregado a dirigir-se ao Centro de Emprego na busca de trabalho ou de um capitalista a pedir esmola.
A alternativa apontada pelos economistas, ou seja, uma miragem de crescimento económico, que conduziria ao aumento da riqueza e à criação massiva de emprego, é ilusória e uma falsa solução. Isto porque, se fosse possível, não iria proporcionar saídas profissionais, numa sociedade globalizada e com novas tecnologias que substituem muitos postos de trabalho, extrema as diferenças de rendimento e agrava as desigualdades, com poucos a ganharem muito e muitos a ganharem pouco, destrói o ambiente e deixa uma larga dívida para as gerações futuras. A alternativa passa, sim, pela saída do capitalismo, a redistribuição real da riqueza entre aqueles que a produzem, a colocação no seu verdadeiro lugar de toda a casta de parasitas, politicos, patrões, grandes accionistas,etc., que não produzem nada,mas beneficiam da maior parte riqueza produzida, bem como pelo abandono do belicismo e do armamentismo, gigantescos sorvedoiros de recursos.
Uma ruptura real é necessária, para permitir a todos viverem de forma equilibrada e poderem governar a sua própria existência.


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