Prendas

Manuel Raposo — 10 Janeiro 2011

botadatropa.jpgPor estes dias, ficámos a saber que 4050 GNRs, 1200 polícias e mais uns quantos militares foram promovidos até final de 2010, alguns com efeitos a 2007; e que, por isso mesmo, os ministérios da Defesa e da Administração Interna aumentaram no ano findo as despesas com pessoal em mais de 200 milhões de euros, tendo tido as maiores percentagens de crescimento destas verbas de entre todos os ministérios.
Soubemos também que o poço sem fundo do BPN já sorveu 5 mil milhões de euros; e que paira a ameaça de mais 2 mil milhões nos serem extorquidos para o mesmo efeito.

Soubemos ainda que as “ajudas” de 2,2 mil milhões de euros aprovadas em 2009 pelo governo para “responder à crise” se destinaram em 61% aos bancos, 36% às empresas e apenas 1% à defesa do emprego.
Soubemos, por fim, que o salário mínimo nacional, que deveria subir para 500€ em Janeiro, fica afinal pelos 485€; e que as taxas chamadas “moderadoras” no Serviço Nacional de Saúde vão passar a atingir todos os que ganhem acima dessa fortuna que é o salário mínimo.

O contraste e o escândalo destas medidas vão sendo comentados – mas não tanto a relação de coerência que liga umas às outras.

A coerência está nisto: os patrões e o poder sabem que é na massa dos trabalhadores assalariados que está a fonte exclusiva dos seus rendimentos. Sabem, portanto, que quanto mais conseguirem subtrair aos salários e aos subsídios sociais, mais hipótese têm de acumular lucros. E têm a percepção de que podem prosseguir essa política indefinidamente, enquanto não houver uma resposta violenta da parte das vítimas.

E sabem também que, para prevenir essa hipótese de uma resposta maciça e violenta, têm de “discriminar positivamente” (como se ouve dizer) essa variedade de assalariados improdutivos que lhes asseguram a estabilidade do poder: polícias, GNRs e militares.


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