Regresso de Marx? Oxalá!

Manuel Raposo — 14 Janeiro 2010

Caro A. Poeiras:

Mais tarde do que gostaria de ter feito, respondo ao seu texto Regresso a Marx / Regresso de Marx, que publicámos em 7 de Agosto. Como poderá ver por esta minha resposta, não poderia discordar mais das suas posições. Mas não deixo de saudar a sua decisão de as colocar a debate. É disso que precisamos.

Comecemos pelo fim, porque aí parece estar o motivo dos seus argumentos contra o marxismo. O que o inquieta não é o regresso do marxismo enquanto literatura – inquieta-o sim o regresso do marxismo revolucionário. Você acha útil que se procure em Marx respostas que não existem noutros autores; mas repudia a inspiração revolucionária que (inevitavelmente, a meu ver) decorre do marxismo.

Simplesmente, para o proscrever, você apresenta dele uma versão adequada à sua crítica – isto é, caricaturada, e, desse modo, fácil de repudiar. Assim é fácil atacar o adversário: atribui-se-lhe aquilo que ele não disse e depois desmonta-se o que se lhe atribuiu.

(Numa coisa, contudo, posso dar-lhe razão: tal como uma pintura sucessivamente retocada, o marxismo acumulou tantas camadas de tinta que a sua face visível passou a ser uma coisa diferente da matriz original. Mas, então, ao fazer dessa imagem deturpada o alvo da sua crítica, você peca por passar ao lado do fundamental.)

As ameaças vêm de onde?

Acho espantoso, desde logo, que você veja no marxismo revolucionário um perigo para a Liberdade. (Não falemos já nesse conceito geral e, aparentemente, universal de liberdade que você designa com L grande – e que na realidade não tem existência palpável se não for referenciado à liberdade concreta que cada classe, em cada momento histórico, reivindica para si mesma).

Cingindo-nos ao momento que vivemos, você não vê perigo para a liberdade, por exemplo, nos ataques dos EUA ao Iraque e ao Afeganistão; nem na expansão da NATO a ponto de se tornar um braço armado global; nem na construção de uma Europa imperialista no lombo dos trabalhadores europeus; nem na generalização da fome num mundo que podia viver em abundância; nem no crescimento do desemprego e, em paralelo, do sobretrabalho num mundo que poderia dividir as tarefas socialmente necessárias de modo equitativo; nem na perda de representatividade e na fascização das instituições democráticas. Etc.

Ou seja, você não vê perigo para a liberdade (dos povos, dos trabalhadores, digo eu) nesta nova avançada de um capitalismo já senil, que procura apoderar-se do que resta do mundo esmagando valores morais, civilizacionais, de bem-estar, que a humanidade veio amealhando com esforço e que julgava definitivos. O perigo, vê-o você no marxismo revolucionário – que preconiza, precisamente, uma coisa elementar: que esta (prolongada) decadência do capitalismo seja abreviada para que, em seu lugar, se construa um regime social superior.

A meu ver, esta sua posição, independentemente de qualquer escolha subjectiva da sua parte, coloca-o de facto no terreno das classes dominantes – e não no campo da transformação social e dos dominados, como você pretende. A partir daí, as suas aspirações de transformação social, por mais genuínas que sejam, tornam-se vazias de sentido; reduzem-se a uma retórica que não assenta em nada de material, porque não se inscrevem na corrente histórica que nos solicita. A tarefa histórica que a humanidade tem hoje a cumprir é apenas uma: realizar a revolução social que a velhice do capitalismo exige.

Que forças sociais podem mudar o mundo?

Diz você, e eu concordo, que o movimento operário mostra incapacidade para responder, em escala global, à ofensiva capitalista das últimas décadas; que o enfraquecimento (e a corrupção, acrescento eu) das organizações de base nacional não foi compensado por formas de organização supra-nacionais. E que o movimento está, portanto, longe de reunir as forças capazes de tamanha tarefa.

Mas se o processo de globalização que o capitalismo leva a cabo implica, como se vê, uma proletarização maciça e uma correlativa destruição de fronteiras – então terá de reconhecer-se que o marxismo percebeu desde início este processo. E mais: viu nele um caminho sem retrocesso em que as velhas nacionalidades nascidas com o liberalismo seriam ultrapassadas, e em que o proletariado ganharia novos contingentes e novos espaços para a sua luta de classe. É nesse facto de ordem histórica que tem sentido a consigna “proletários de todos os países uni-vos”.

Ou seja, a meu ver o marxismo dá-nos hoje, falando em termos de linha geral, uma clara visão de onde devem ser buscadas as forças sociais para ultrapassar o capitalismo. A massa proletarizada (isto é, expropriada de meios de produção) em todo o mundo é maior do que nunca – e é colossal.

Não se trata portanto de “decretar a incompetência revolucionária dos não operários”, como você acusa. Trata-se de perceber que entre as classes despojadas de meios de produção e aquelas que os detêm há um abismo; e que, entre umas e outras, há aquelas que ainda vão tendo alguns meios de produção próprios, ou privilégios decorrentes da propriedade, própria ou alheia (os lugares de chefia, o conhecimento especializado, por exemplo).

Não são precisas grandes demonstrações para se perceber que uma revolução social se coloca de modo diferente a cada uma dessas classes – sendo claro que as classes possuidoras de algum tipo de propriedade não têm qualquer interesse numa revolução social. Antes de ser um problema de consciência, a necessidade da revolução social é um problema objectivo.

De novo os fantasmas

O fantasma das primeiras revoluções socialistas e dos regimes ditatoriais que lhes sucederam volta a ser argumento que você repete para banir o marxismo. Mas hoje, à distância de 60 ou 90 anos, é possível avaliar o porquê desse desenlace. Se pusermos de lado julgamentos idealistas, somos obrigados a constatar que as condições materiais desses países não favoreciam à partida o êxito fácil do socialismo. E, deixadas à sua sorte, num mundo capitalista que teve forças para se regenerar, essas revoluções menos hipóteses tiveram de levar a tarefa por diante. É desta condição material de partida que decorre, em primeiro lugar, a deriva sofrida pelas revoluções proletárias do século XX.

Em contrapartida, o mundo de hoje, muito mais desenvolvido, coloca-nos à beira de uma transformação social radical, precisamente porque as bases materiais do socialismo estão hoje incomparavelmente mais avançadas.

Faço um paralelo. Nos nossos dias, só gente empedernida pode contestar o progresso enorme que representou a Revolução Francesa de 1789, e as revoluções liberais que se lhe seguiram. Mas, uns 150 anos antes dessas revoluções bem sucedidas, a primeira tentativa de revolução burguesa, ocorrida em Inglaterra, apenas durou poucos anos, teve de recorrer a meios brutais para tentar sobreviver e acabou por soçobrar. Falhou – mas foi um primeiro sinal da transformação que haveria de vingar século e meio depois. Vamos banir o Cromwell revolucionário republicano como você quer banir o Marx revolucionário comunista?

Regresso de Marx, porquê?

Você deplora que, perante os sinais de colapso que o sistema capitalista vai mostrando, haja “velhos marxistas” que aproveitem a deixa para proclamar o “regresso a Marx” – um Marx, diz você, adepto “do primado da economia” e “estatista”.

Que eu saiba, nem foram os “velhos marxistas” (você quer apoucá-los à partida colando-lhes um rótulo de antiguidade…) que primeiro falaram no regresso de Marx. Foram os próprios economistas burgueses e capitalistas, entre eles, George Soros, se não me engano.

Porquê? Por uma razão muito simples que você desvaloriza: o marxismo é a única doutrina que permite perceber em toda a extensão a actual crise, porque aborda o problema a partir da raiz – a natureza contraditória e historicamente limitada do capitalismo como formação económico-social. Ao capitalismo coube a missão de socializar a produção, libertando os trabalhadores da propriedade individual dos meios de produção; ao socialismo cabe completar a tarefa, expropriando os que hoje usurpam os meios de vida da sociedade e abrindo campo a novas formas de relações sociais.

A economia política burguesa, como é meramente instrumental, não consegue ver a crise a não ser nas suas manifestações superficiais. Se a visse pelas razões de fundo teria de reconhecer nela um sinal da natureza historicamente precária do capitalismo e o estado senil a que chegou… e decretar falência.

Vale a pena (re)ler O Capital – e, já agora, os Fundamentos para a Crítica da Economia Política (Grundrisse) – tendo presente a actual crise do capitalismo mundial, não só para perceber a génese da crise capitalista como para desfazer algumas ideias demasiado simplificadas que se vulgarizaram acerca do marxismo. Como as que a seguir refiro.

O marxismo defende o “primado da economia”?

O marxismo não fala propriamente de “contexto económico” (expressão sua) quando se trata de perceber um fenómeno social. Fala da base material, e histórica, em que ele ocorre. E essa base material não é constituída apenas pela economia (ou seja, pela produção de bens), antes abarca também todos os dados definidores da realidade: forças sociais em presença, política, crenças, cultura e por aí fora. É essa visão total que define o contexto dos acontecimentos e permite percebê-los.

O “primado da economia” que você atribui ao marxismo não passa de uma vulgata, de uma afirmação de catecismo.

O que Marx defende é outra coisa: diz que, no conjunto de todos os factores que constituem uma dada realidade histórica, o que determina a evolução social (política, jurídica, cultural, etc.) é, em última análise, o modo como os homens produzem os seus meios de vida, todos eles.

Estamos longe da simplificação do “primado da economia”. E se assim não fosse não haveria na concepção marxista lugar para a política, ou seja, para a acção, para o esforço de transformação das condições presentes, para a defesa de ideias revolucionárias, para a discussão que estamos a ter.

Teses demoníacas

Você acusa as Teses sobre Feuerbach de “afastar o homem da natureza” e de ser fonte de “aberrantes teorias”, de que não exclui… os “campos de reeducação”!

Esquece você (ou nega…) que a Natureza do homem é a sociedade em que ele nasce e que ele reproduz na sua actividade colectiva e individual; e que a Natureza “natural” faz também parte do mundo humano, na medida em que os homens têm com ela uma relação de apropriação. Entendido isto, é lógico afirmar que “a essência humana não é uma abstracção inerente a cada indivíduo”, mas que “na sua realidade ela é o conjunto das relações sociais”, como afirma a sexta tese sobre Feuerbach em que você vê a cara do demónio.

Repare que esses onze parágrafos que formam as Teses sobre Feuerbach se destinaram a criticar um tipo de materialismo que considera o mundo objectivo como coisa separada e distinta da actividade humana – e que por isso exclui a prática social como factor de transformação da realidade. Quer melhor negação da ideia do “primado da economia” que você atribui ao marxismo?

A dedução, também sua, de que para o marxismo “bastaria mudar o conjunto das relações sociais para mudar o homem totalmente” ou que “bastaria” centralizar os meios de produção no Estado para se conseguir uma transformação social de raiz – é outra ideia que só o compromete a si, não a sexta tese sobre Feuerbach nem o marxismo. “Bastaria”, diz você, como se “mudar o conjunto das relações sociais” fosse coisa de somenos…

Na concepção marxista, revolução social significa modificar pela base as condições em que a humanidade existe num dado momento; e isso quer dizer alterar as relações de produção em que assenta a sociedade em causa; só essa mudança fornece as condições materiais para novas formas de relações sociais, sejam elas quais forem (incluindo a transformação da sua mítica “natureza humana”).

A revolução social é… social por ser através de uma transformação do conjunto da sociedade que se criam condições para a liberdade de cada indivíduo. Não o contrário.

Pelos vistos, não é esta a sua concepção de revolução social. Mas então diga-nos: se não é pela alteração das condições de base em que existe a humanidade que se criam as condições para mudar a vida de cada ser humano, será que, na sua ideia, “bastaria”, inversamente, alterar a vida de cada ser humano para alcançar uma mudança social global (por somatório, digamos)?

É esta ideia (a meu ver subjacente à sua concepção) de uma “mudança social” centrada na transformação do indivíduo, tomado em abstracto, e feita a partir dele que, precisamente, alimenta o individualismo e a fragmentação do movimento proletário – que você de início lamenta.

O Estado

A questão do Estado inscreve-se neste processo de transformação radical. Para o marxismo revolucionário a posição perante o Estado é clara.

O Estado é um instrumento de dominação de classe; o Estado sob o qual vivemos é um estado burguês que tem a função de exercer a ditadura das classes proprietárias sobre as classes produtoras, mesmo quando adopta formas democráticas. Consequentemente, o Estado desaparecerá apenas quando desaparecer a razão de ele existir: as classes sociais e os seus antagonismos. Segue-se que o estado burguês, por óbvias razões, não pode ser instrumento para a criação de relações sociais socialistas e, portanto, está fora de causa “tomar o controlo do aparelho do estado”, como você diz que o marxismo defende; faz sentido sim destruí-lo e instituir um Estado que represente as classes maioritárias. E com isso está-se apenas perante os começos da mudança, não do seu fim.

Comunismo hoje

A diferença entre o comunismo marxista (e, portanto, a sua concepção de revolução social) e o comunismo idealista e demais crenças de transformação social está no facto de o marxismo não procurar trazer à Terra nenhum Ideal. A sua visão revolucionária parte do que realmente existe: o capitalismo; e é a partir da própria natureza contraditória do capitalismo e dos seus limites históricos como modo de produção que retira a ideia de que ele será superado por uma formação social de natureza diferente, que seja a sua negação.

Você acredita que o capitalismo é eterno, que a humanidade chegou, com o capitalismo, ao supra-sumo da evolução e não lhe resta outra sorte que não seja viver no meio das desgraças que vemos à nossa volta? Se não, onde está a força motriz que provoca a transformação do actual estado de coisas? Nos ideais que cada cabeça pode produzir livremente e sem encargos – ou na própria evolução material da sociedade?

Esta transformação é “automática” como você diz (atribuindo de novo a expressão ao marxismo)? Se com isso significa a mecânica evolução das forças materiais duma sociedade, a resposta é não. Mas a questão, assim, estaria mal colocada, porque as transformações operadas numa sociedade são fruto da acção conjugada de todos os órgãos do seu corpo; e desse corpo faz parte a intervenção humana. A vontade e a organização das classes sociais são igualmente, no quadro material em que se inscrevem, factores de mudança. Daí a importância de considerar a actividade humana como um dado objectivo da realidade, como referem as Teses sobre Feuerbach que você acima tanto invectivou.

A progressiva e irreversível mundialização da produção, a concentração dos meios de produção como meios de produção social, a expropriação em larga escala da propriedade individual, a proletarização crescente em todo o globo (inclusive das camadas médias do mundo desenvolvido), etc. são dados que apontam para a socialização do mundo. O que é que a impede de facto? – as relações sociais dominantes, que têm por base inquestionável a propriedade privada e portanto a apropriação privada dos benefícios sociais. É esta a contradição essencial que a humanidade tem pela frente e é a ela que o marxismo revolucionário se dedica.


Comentários dos leitores

JMC 16/1/2010, 1:10

Manuel Raposo.
Esta tua crítica às posições do teu interlocutor é confrangedora. De tal modo estás cego que nem te apercebes das barbaridades que dizes. Repara bem:
1-“Não são precisas grandes demonstrações para se perceber que uma revolução social se coloca de modo diferente a cada uma dessas classes – sendo claro que as classes possuidoras de algum tipo de propriedade não têm qualquer interesse numa revolução social. Antes de ser um problema de consciência, a necessidade da revolução social é um problema objectivo”.
Por acaso não te ocorreu que a burguesia, uma classe possuidora, teve interesse em desenvolver a revolução económica que protagonizava e de promover a revolução política que a levaria a alcançar o poder, realizando, portanto, as componentes económica e política da revolução social?
2-“Ao capitalismo coube a missão de socializar a produção, libertando os trabalhadores da propriedade individual dos meios de produção; ao socialismo cabe completar a tarefa, expropriando os que hoje usurpam os meios de vida da sociedade e abrindo campo a novas formas de relações sociais”.
Também por acaso, não te ocorreu que a classe dirigente de qualquer modo de produção socializa a produção, dentro do que lhe é possível pelo estádio de desenvolvimento das forças produtivas? E não te ocorreu que “o capitalismo” não libertou os trabalhadores da propriedade individual dos meios de produção, porque os trabalhadores do modo de produção tributário, os servos, não eram proprietários dos meios de produção?
3-“ Na concepção marxista, revolução social significa modificar pela base as condições em que a humanidade existe num dado momento; e isso quer dizer alterar as relações de produção em que assenta a sociedade em causa; só essa mudança fornece as condições materiais para novas formas de relações sociais, sejam elas quais forem (incluindo a transformação da sua mítica “natureza humana”)”.
Por acaso, não te ocorreu que “modificar pela base” não é modificar pelo cume, e que “alterar as relações de produção” não “fornece as condições materiais para novas formas de relações sociais”, mas é criar novas relações de produção? Relações de produção existentes não se transformam noutras; ao lado de relações dominantes existem ou nascem outras, dominadas, desempenhando funções que aquelas não desempenhavam ou que deixaram de ter capacidade para desempenhar, aproveitando as forças produtivas que vão sendo desperdiçadas, por incapacidade de serem aproveitadas pelas relações de produção dominantes.
4-“as relações sociais dominantes, que têm por base inquestionável a propriedade privada e portanto a apropriação privada dos benefícios sociais. É esta a contradição essencial que a humanidade tem pela frente e é a ela que o marxismo revolucionário se dedica”.
Também não te ocorreu, por acaso, que a propriedade privada dos meios de produção está na base de todos os modos de produção constituídos por classes sociais com interesses distintos, e não é coisa que apenas exista no capitalismo? Tal como os assalariados não são proprietários dos meios de produção, assim também os escravos e os servos.
Pelos vistos, continuas incapaz de pensar pela tua própria cabeça e a agarrar-te comodamente às conhecidas patranhas do Marx. Nem ao menos és capaz de te interrogar acerca das baboseiras do Marx, apenas as papagueias. Comento-te assim porque conhecendo-te há mais de trinta anos constato a tua completa incapacidade para produzires qualquer pensamento original, por simples que seja. Dedica-te mas é à arquitectura, porque a fazer uns traços talvez te desenrasques. Isto da realidade social é areia demais para a tua camioneta.

A. Poeiras 16/1/2010, 15:28

Caríssimo Raposo, para além de ter demorado muito tempo produziu uma não resposta. A primeira parte do seu texto é um mero processo de intenções, uma pseudo-demonstração de que estou, quer queira quer não, no campo da classe dominante. Para início de conversa não está mal: já reservou o meu lugar no gulag?
Quanto às questões substantivas: Há ou não primado da economia; a concepção do homem ou a questão do poder, nada de importante.
Para Marx o homem é um ser social e histórico (certo ou errado?), portanto, a sua vontade consciência e intenções são social e historicamente determinadas: é a base material que determina o indivíduo a agir, e a base material o que é?: forças produtivas e relações de produção, que determinam a superestrutura - cultura, regime político, leis costumes, moral, consciência...
Ora, há coisas que mudam muito, coisas que mudam pouco e coisas que raramente mudam (como os costmes sexuais, a agregação numa qualquer forma de família ou a irrupção de formas de precedência - hierarquia), independentemente das culturas ou dos momentos na história, portanto, nem tudo é determinado pela base material e a plasticidade dos humanos não é tão grande que mudem tão profundamente a cada nova etapa.
"O Capital", que é um livro de filosofia, tem como objectivo declarado pelo próprio Marx descobrir a lei natural do desenvolvimento da sociedade moderna, e essa lei é económica. Mais, diz Marx (creio que no prefácio à 1ª edição do capital) que não podem saltar-se etapas nesse desenvolvimento, o que implica a plena realização do capitalismo, o qual nessa altura dará, num esquema teleológico e inevitável, lugar ao socialismo (vamos do paraíso primitivo ao paraíso futuro pela via sacra, amen).
Quanto à questão do poder, um operário no governo não é um operário, é um governante e comportar-se-á como tal, se me faço entender.
ap

josé alfredo 1/3/2010, 0:33

Com tudo o que tem acontecido no Mundo, ainda há dúvidas que Marx cada vez está mais actual. É necessário que as mentalidades retrógradas se adaptem à realidade, e aceitem a necessidade da transformação da Sociedade no sentido de acabar com uma classe que domina o resto da Humanidade, e que só pensa na obtenção do maior lucro no menor espaço de tempo possível à custa da exploração desenfreada dos trabalhadores.

António Alvão 23/5/2010, 9:59

É muito lindo invocar Marx, Cristo, os filósofos, etc.
Regressar Marx ou a Marx para quê?
Uma coisa vos garanto, ele não regressa!
A classe dirigente do proletariado fizeram do marxismo, durante mais de 70 anos, um dogma e uma grande mentira.
Vocês recordam-se de ler a resposta que Marx tinha sempre na ponta da língua para os oportunistas? - « Isso que dizeis que sois nem eu sou»!
Os economistas "marxistas/ comunistas" no poder só resolveram a economia da classe dirigente, da cupula do partido, e da cúpula do estado. - O socialismo não foi metido na gaveta - foi metido no túmulo de Marx!
Nacionalizar e não socializar é um roubo que não deveria de ter perdão!
Bakunine e os anarquistas no 1.º Congresso da 1.ª Internacional, defendiam a tese de que no processo revolucionário, a socialização passaria a fazer parte do processo revolucionário sem ser preciso a estrutura piramidal ou o afunilamento do poder político hierárquico.
O mal está sempre no poder, mesmo marxista que seja. Nunca houve nem há nenhum poder que queira a igualdade, a liberdade e a socialização.
Bakunine avisou Marx para o perigo da criação do estado proletário - era a mesma coisa que abortar a revolução - « uma vez sentados no cadeirão do poder nunca mais de lá sairão» etc.
Foi por causa desta divergência de fundo que a 1.ª Internacional ficou dividida em duas - dum lado os libertários, do outro os autoritários.
Distribuir o trabalho consoante a sua capacidade profissional e física e o seu rendimento conforme a sua necessidade, ficando o resto da mais valia para o enriquecimento da sociedadade, no seu todo - é uma economia difícil?
A outra, aquela que os economistas aprendem, a capitalista, põe poucos com muito e muitos com pouco ou sem nada.
Pode existir organizações sem cúpula e sociedade sem hierarquia do estilo piramidal. - Esta é a única via que assegura de facto a socialização em liberdade e o gosto pela comunidade a que se pertence.
Mas qual é o político ou o "revolucionário" com ideologia de poder que aceita esta via de socialismo?
«Sem capacidade de auto-governo tornamo-nos vítimas de uma cultura aquisitiva que está a expandir rapidamente o seu poder e produtividade em todos os sentidos, ao mesmo tempo que permite que o verdadeiro centro da nossa vida se torne oco e tristemente vazio». Lewis Munforde

António Roque 29/4/2014, 22:59

Interessante este debate. Não sabia por onde andáveis. Continua o discurso dogmático e cego. Não vejo avaliação do passado recente do que se pretendeu chamar de socialismo/comunismo. É necessário aprender com o livro da mulher do Bukarine (Bukarine a minha paixão). Com a cobertura que todos demos ao socialismo à Albanesa, à Chinesa, à Cambodja, etc... É tudo uma questão de poder. E depois uma questão de cultura. E aqui vem o dever de ser livre. Livre individualmente sem se submeter a interesses sejam eles quais forem. Classe operária, toma o poder para quem. Para si. E temos a mesma trampa. É preciso prospetivar o homem futuro. O meu camarada tem que ser um homem livre. Ter a coragem de ser livre e viver livre. Aprender a dizer Não.


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