Diminuição dos salários reais e repartição do rendimento

Pedro Goulart — 10 Maio 2009

salariosqueda.jpgSegundo estimativa da Comissão Europeia, Portugal vai ter, em 2009, uma redução dos salários reais. Estes irão cair 0,4%, apesar da diminuição dos preços (cerca de 0,3%) que se prevê para este ano. E isto acontece, fundamentalmente, por causa dos inúmeros processos de lay-off (redução temporária do tempo de trabalho e respectivo corte salarial), que têm estado a ser levados a cabo por todo o país e que já atingem vários milhares de trabalhadores.

No fundo, já está a ser posta em prática a tese defendida por conhecidos capitalistas (e propagandeada por alguns economistas e jornalistas ao seu serviço) de ser necessário reduzir os salários nominais dos trabalhadores para poder fazer face à crise.

Por outro lado, e tendo em atenção esta redução prevista nos salários reais, dados do Eurostat levam-nos a concluir que a remuneração do trabalho (*) representará, em 2009, apenas 50% do Produto Interno Bruto enquanto, em 1973, era de 60%.

Estes valores incluem, para além dos salários e ordenados, as chamadas contribuições sociais a cargo do patronato para a Segurança Social e Caixa Geral de Aposentações (que em 1973 eram inferiores a 10%). Se deduzirmos os cerca de 14% em que se situarão hoje essas contribuições, verifica-se que a parte de salários e ordenados corresponde efectivamente a apenas cerca de 36% do PIB.

Acresce ainda o facto conhecido de, no respeitante a salários de trabalhadores, muitos patrões não só não pagarem as contribuições a que são obrigados por lei, mas também de procederem a descontos que depois embolsam em vez de os fazerem chegar à SS ou à CGA.

Isto significa que a repartição do rendimento é hoje mais desfavorável aos trabalhadores que antes do 25 de Abril de 1974. De relembrar aqui que a parte do rendimento nacional destinada ao trabalho, entre 1974 e 1975, com a organização e a luta ousada dos trabalhadores na altura, com a diferente correlação de forças de então, chegou a atingir os 74% (64% de salários mais 10% de contribuições sociais).

Claro, apesar da já elevada taxa de exploração, o patronato quer sempre mais e mais!
Só a luta determinada, corajosa, dos trabalhadores poderá fazer parar governo e patrões.

(*) Os números oficiais incluem nas mesmas contas os salários e os ordenados, pelo que a parte correspondente ao trabalho assalariado propriamente dito será ainda menor que o indicado.


Comentários dos leitores

Membrodopovo 12/5/2009, 0:39

Ainda bem que vivemos em democracia, e que democracia!
É esta a "liberdade" que os burgueses apregoam: a liberdade de despedir, de explorar, de oprimir... enfim... todo o lucro que é possível é legal, tudo o que é fácil e acessível torna-se difícil ou erradica-se; tudo o que é possível negociar negoceia-se, por mais vital que seja. E quando algo é obtido directamente na Natureza: Atenta-se contra a própria Natureza!
Ao Povo só é dado o direito de consumir até que fique sem dinheiro. É esta a democracia do capital.

António Poeiras 19/5/2009, 15:55

Nos últimos tempos (e mesmo no 'Público' de hoje) os agentes de agiprop instalados nos jornais fazem um esforço danado para apresentar a Autoeuropa como o exemplo do futuro, o exemplo daquilo que são trabalhadores responsáveis e patrões humanistas (e responsáveis): os patrões garantem que até 2010 despedem apenas os contratados a prazo e todos aceitam boamente as paragens (aqui não se fala de lay-off) e a redução dos salários.
Solidariedade a quanto obrigas...


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar