Cúmplices e sem vergonha

Pedro Goulart — 17 Março 2009

vooscia.JPGDocumentos entregues pelo Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, à organização não governamental britânica Reprieve, terão contribuído para libertar agora um preso de Guantánamo, o cidadão britânico de origem etíope Binyam Mohamed. Nesses documentos mostra-se como o preso passou duas vezes por Portugal (em 2002 e 2004), transportado por aviões da CIA, durante os governos de Durão Barroso e Santana Lopes.

O ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado tem sido um dos maiores responsáveis do actual governo pela negação da existência de tais voos em território português. Quando em Janeiro de 2008 a Reprieve denunciou, com dados concretos, a cumplicidade dos governos portugueses no tráfico de prisioneiros, os porta-vozes do governo e Luís Amado desvalorizaram a revelação e deram-na como infundada.
Quando em Dezembro passado, o governo espanhol e o diário El País confirmaram a passagem por Portugal dos ditos voos, a tecla do governo foi a mesma – negamos, nada sabemos.

Recentemente, o ministro, juntamente com a deputada europeia do PS Edite Estrela, interveio insistentemente junto do Parlamento Europeu para que o nome de Durão Barroso não fosse referido no último relatório sobre os voos. Agora, perante as declarações de Pinto Monteiro e a insistência da Reprieve, Amado veio dizer, com toda a desfaçatez e tentando mais uma vez desvalorizar o assunto, que, afinal, fora ele a entregar os documentos a Pinto Monteiro – não havendo portanto “novidade”.

O governo de José Sócrates sempre se tem recusado a admitir a utilização de território português pelos voos ilegais da CIA e, em 2007, rejeitou a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigação dos factos, considerando-a “inoportuna”.

Ora, isto só pode ser entendido como um pacto entre as forças do poder para mutuamente se defenderem do escândalo. Na sua óptica, seria um desprestígio para o amigo Durão Barroso, com responsabilidades na Comissão Europeia, e para o PS, chegar-se à conclusão, com provas em cima da mesa, de que todos os governos do PSD ou do PS estiveram envolvidos nos crimes praticados pela administração do senhor Bush. Chamam a isto “sentido de Estado”!


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