Quando não há justiça social, cresce a caridade

Manuel Monteiro — 11 Março 2009

caridade.jpgDiz-se que o capitalismo está em crise, mas os capitalistas não estão. As fabulosas fortunas continuam, no essencial, intactas. A crise do capitalismo abate-se, sobretudo, sobre os trabalhadores. O desemprego cresce em ondas avassaladoras. E isto só agora começou. As grandes multinacionais anunciam milhares e milhares de despedimentos para, escudados na crise, se reestruturarem e retomarem os seus lucros fabulosos. No curso da crise surgem novas fortunas, sobretudo fortunas feitas com base na especulação e na miséria de milhões de seres que perdem trabalho e casa.

E assiste-se a tudo: empresas que tiveram lucros, empresas que anunciam prejuízos, empresas que recebem milhões de apoios dos governos (os bancos, por exemplo); todas recorrem à mesma medida: despedir em barda! E a procissão ainda vai no adro…
Da parte dos trabalhadores assiste-se a uma posição de raiva impotente, mas o descontentamento é geral. Esse descontentamento não se tem traduzido em lutas mais radicais, a não ser na Grécia e na Islândia.

A chamada Segurança Social nos diversos países, sobretudo o subsídio de desemprego, tem atenuado os efeitos nefastos que o desemprego tem na vida dos trabalhadores e suas famílias. Mas vai chegar uma altura em que esta medida – porque caducou no tempo, ou porque não cobre as necessidades mínimas das pessoas – não vai ser suficiente para atenuar a revolta dos assalariados pobres. Então a revolta será inevitável.

A burguesia também sabe isto. E está a preparar-se para actuar como sempre o tem feito: com o cacete e com a cenoura. Com o cacete, armando as polícias e os exércitos (públicos e privados) até aos dentes, prontos a entrar em acção mal a insatisfação social se manifeste nas ruas de uma forma mais vigorosa; pela cenoura, continuando a política dos subsídios possíveis, mas, sobretudo, incentivando a chamada sociedade civil (nomeadamente as igrejas ou organizações por elas enquadradas) para praticar a caridade.

Assiste-se a um incremento da actividade caritativa das chamadas instituições de solidariedade social, das igrejas e do Banco Alimentar Contra a Fome. No mesmo sentido vai a realização do congresso sobre o voluntariado que vai ter lugar em data próxima.

Por mais boa vontade que haja em muitas pessoas bem intencionadas que militam nestas organizações, temos que ser claros: esta é uma jogada miserável das cúpulas das igrejas e do poder burguês para atenuar a revolta popular. Visa incrementar o espírito de submissão das pessoas, valendo-se da sua miséria e angústia para tentar perpetuar uma situação degradante, fruto do sistema capitalista.

Os trabalhadores sabem que só o trabalho digno, condignamente remunerado, os pode satisfazer. E é essa a exigência que tem que ser feita: Não ao desemprego – trabalho para todos com salários condignos.


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