Paradoxos da história georgiana

António Louçã — 7 Outubro 2008

Quem seguiu pela televisão a mais recente guerra no Cáucaso, pôde pasmar diante das imagens de uma estátua de Estaline na capital georgiana, Tbilisi. Não é pouca coisa, numa ex-república soviética, quando sabemos que a implosão da antiga URSS foi acompanhada pelo sistemático derrubamento das estátuas de dirigentes bolcheviques.

Parece portanto que a ainda-república, na encruzilhada constitucional para a restauração monárquica, candidata a posto avançado da NATO e sua principal rampa de lançamento de mísseis nas barbas da Federação Russa, continua a considerar Estaline muito mais como filho pródigo e georgiano ilustre do que como bolchevique.

O que é curioso neste culto serôdio da personalidade de Estaline é que, a partir de certa altura, a sua sensibilidade às aspirações nacionais georgianas foi tão duvidosa como o seu bolchevismo. E foi Lenine o primeiro a pôr em dúvida uma e outro.

É verdade que em Fevereiro de 1921 Lenine se inclinou perante os argumentos de Estaline e do seu amigo Ordjonikize, ambos georgianos, que preconizavam a invasão da Geórgia pelo Exército Vermelho para salvar da contra-revolução uma inexistente insurreição operária georgiana. E é verdade que com essa invasão, desejada pela dupla Estaline-Ordjonikize e caucionada por Lenine, se anulou a independência concedida à Geórgia no ano anterior por iniciativa do mesmo Lenine.

Mas não é menos certo que, já no leito de morte do fundador do bolchevismo, foi a Geórgia o tema de mais acesa controvérsia entre ele próprio e Estaline, foi ela o motivo que o levou a propor que Ordjonikize fosse expulso do partido (por agressão a um camarada georgiano), foi ela que o levou a propor a Trotsky uma aliança (desastradamente rejeitada por este) para defender contra o estalinismo nascente os direitos do partido georgiano.

O paradoxo era então este: o internacionalista russo Lenine levou a cabo a sua última batalha contra o chauvinismo grão-russo do georgiano Estaline.


Comentários dos leitores

gregorio trindade curto 20/11/2008, 23:28

O interessante desta estória é que ela, em si e por si, não tem interesse algum. Na verdade, António Louçã, no seu anti-comunismo doentio, não encontra outra forma de avaliar o que de bom e de mau Staline fez durante o período em que foi secretário geral do PCUS, senão evidenciando pequenos detalhes, de uma longa actividade política, que nada caracterizam.
Um homem tem um percurso com coisas boas e coisas más. Insistir na avaliação do homem só pelas coisas más denota fraca inteligência ou má fé.
Gregório Curto

afonso gonçalves 17/12/2008, 11:49

Conclusão da sapientíssima discussão acima referida:
1.º leitor - Stalin deve ir para o Inferno, abrenúncio!!!
2.º leitor - Não para o Inferno mas para o Purgatório, abrenúncio!!!

gregorio trindade curto 20/12/2008, 15:49

Triste conclusão a que Afonso Gonçalves chegou. Vê-se, claramente, que não entendeu nada do que eu disse e está escrito. O que mais me chateia neste tipo de intelectuais é a sua enorme incapacidade em perceber que a história é feita pelos povos e, o que é mais relevante, pelo confronto de interesses das classes sociais existentes em cada período histórico. O papel das personagens individuais, não deixando de ser importante, está sempre condicionado pela passividade ou intervenção das classes sociais nesse período. Mas ainda assim deve ser abordado globalmente.
Um bom Natal para ti também.
Curto

afonso gonçalves 22/12/2008, 16:46

O 1º texto de G. Curto refere-se apenas à personalidade de Stalin e não "teoriza" sobre as leis da história. Observa as qualidades e defeitos dos homens à luz da moral cristã. "Cada um de nós" tem virtudes e perversidades e Stalin não foge à regra. Foi isto que li na resposta que deu a Ant. Louçã. Tenho pena de ter essa enorme incapacidade em perceber o texto na profundidade que ele merece embora estivesse lá explícito com muita clareza "que são os povos os verdadeiros obreiros dos acontecimentos da história", frase feita que entontece qualquer intelectual de certo "tipo" como eu, e que chateia certos intelectuais de outro "tipo" muito mais elevado. Quanto ao Natal agradeço os votos formulados.

heitor da silva 22/5/2009, 1:02

Meu caro António: A minha primeira reacção ao ler este teu memorando da história do bolchevismo foi a de lamentar não teres feito a ponte entre aquele tempo e a época presente e próximo-passada, ontem e agora deste nosso sudoeste europeu, para ajudar a clarificar as razões, quês e porquês dos factos, a fim de que, entendida a história, possamos dela colher frutos. Pretendia eu chamar a tua atenção para a necessidade de estarmos alerta e darmo-nos conta de que os Estalines-Ordjonikizes e outros ines e izes, andam por aí a obstaculizar o já de si difícil caminho do entendimento que nos liberte da escravidão em que nos encontramos, um século passado. Lendo os comentários que se seguiram confirmei isto. Daí que já não necessito dizer-te mais.

antonio barata 2/5/2014, 18:46

Não é possivel atravessar o rio com um barco de casco roto. Mas estupidez é tenta-lo.
No inicio do Nacional socialismo, alguns intectuais acreditaram que dali vinha algo de bom. Retrataram-se maios tarde do erro cometido.
Que impede os STALINISTAS de VER que se enganaram. 60 anos depois, com os crimes todos ao leu. Centenas de milhares de bolcheviques nunca souberam porque é que morreram a dizer viva Staline. Haverá maior traição. Milhões de pessoas de todas as categorias sociais morreram nos campos siberianos. Todos culpados. Agentes de varios serviços de espionagem. Sabotadores ou primos afastados de sabotadores, ou divorciados de sabotadores, a lista é enorme, o crime é contra o comunismo, e não ficou pos aí. Ainda há muitos que sonham ter esse poder de mandar matar indescreminadamente, mas só quando o poder for inquestionável como era na altura. SUPREMA COBARDIA.


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