Arquivo: Maio 2019

A marcha sem retorno da desigualdade

Urbano de Campos — 29 Maio 2019

O assunto não constitui novidade, mas é uma confirmação que vale a pena trazer a lume. Um centro de pesquisa ligado à Escola de Economia de Paris publicou no ano passado um relatório sobre a desigualdade no mundo por país (1). As conclusões desmentem os axiomas do chamado liberalismo económico que faz carreira nos EUA e também na Europa, e que em Portugal parece querer singrar por via de formações partidárias de recente criação, como a Aliança de Santana Lopes ou a Iniciativa Liberal do economista Ricardo Arroja.


Guerra de extermínio

23 Maio 2019

No primeiro trimestre deste ano, a polícia do Rio de Janeiro matou perto de 450 pessoas, uma média de cinco por dia. É um recorde de 20 anos, desde que o Instituto de Segurança Pública regista estes números. A investigadora Daniela Fichino, da organização Justiça Global, afirma que isto se deve à legitimação que é dada à polícia para matar, quer pelo governador do Estado, Wilson Witzel (do Partido Cristão Social), quer pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. Witzel prometeu durante a campanha eleitoral fazer uso de snipers contra supostos traficantes. Vários dos casos mortais foram efeito de disparos por snipers. Daniela Fichino diz que a maioria das vítimas são negros, no que ela classifica como uma guerra de extermínio dirigida contra a juventude negra.


Europeias, um fino verniz democrático

Manuel Raposo —

Logo a seguir ao número de votos que esperam obter, a maior preocupação dos partidos concorrentes às eleições europeias é o nível da abstenção. Na verdade, nem as esforçadas campanhas partidárias, nem a extensa cobertura mediática que lhes é dada alteram as previsões de que mais de metade dos eleitores não votará. Talvez tivesse interesse tentar ver qual a raiz deste desinteresse e não apenas apontá-lo como o “grande inimigo”, como disse a cabeça de lista do BE, expressando de resto uma ideia geral.


Joe Berardo: um alvo fácil

Manuel Raposo — 20 Maio 2019

O clamor que se levantou, da esquerda à direita, contra Joe Berardo tem tudo de moralista. Por isso mesmo, não toca sequer no fundo (social, político, económico, de classe) em que um tal fulano se move. O que alarma os defensores das instituições é o facto de a boçalidade do homem espelhar a podridão em que vivemos, e poder suscitar por isso uma indignação que atinja toda a estrutura social e desacredite o regime aos olhos da massa popular.


Um encadeado de oportunismos de soma zero

Urbano de Campos — 10 Maio 2019

A luta partidária travada em torno das reivindicações do professores é um exemplo vivo de oportunismo político e de cretinismo parlamentar como há muito não se via. É por isso uma lição sobre a política nacional e sobre o alcance da “democracia representativa” que a burguesia vende como o supra-sumo da nossa organização social. Uma lição, sobretudo, para os trabalhadores acerca de como os seus interesses são usados na arena partidária e o que significa delegar no jogo de forças parlamentares a defesa das suas exigências de classe.


Uma assembleia que a história dos vencedores chamou “selvagem”

António Louçã — 3 Maio 2019

Um livro de Almada Contreiras, Jacinto Godinho e Vasco Lourenço veio colocar ao alcance do público a transcrição, praticamente integral, das discussões havidas na famosa assembleia de 11 para 12 de março de 1975. A assembleia realizou-se poucas horas após o putsch spinolista, em que o RAL 1 foi bombardeado por aviões da Força Aérea e cercado por tropas pára-quedistas, com um saldo de um morto e quinze feridos. As bobines com o registo áudio da assembleia, dadas como perdidas durante muitos anos, são uma fonte fundamental para compreender o que se passou. E isso já bastaria para a publicação ser aplaudida e os seus promotores felicitados pela iniciativa.