Tópico: Liberdades

França: crise da civilização burguesa posta a nu

Manuel Raposo — 6 Julho 2023

As novas gerações sabem que vão viver toda a vida pior ainda que os seus pais

Quem não queira confundir o rastilho com a pólvora percebe que os motins dos últimos dias em França não têm propriamente a ver com o assassinato do jovem Nahel Merzouk às mãos da polícia — de que apenas são o efeito imediato —, mas radicam num profundo apodrecimento da sociedade francesa. As suas marcas são o racismo, a desigualdade económica, a repressão que atingem sobretudo os franceses de segunda e os imigrantes.


10 de Junho, espelho de dois regimes

Manuel Raposo — 9 Junho 2023

Diário Popular, 13 Junho 1978. Funeral de José Jorge Morais morto pela PSP em 10 de Junho quando protestava contra uma manifestação fascista

O fascismo português comemorava o 10 de Junho sob uma designação bem expressiva: “Dia da Raça”, em exaltação dos feitos coloniais e da supremacia branca e, a partir de 1961, como suporte ideológico e político da guerra colonial. O regime democrático converteu a mesma data na evocação de uma mítica comunidade de língua e de cultura de raiz portuguesa-europeia, na tentativa de — nessa base superficialmente comum a vários povos e geografias — restaurar laços políticos e interesses económicos que as guerras de libertação colonial tinham combatido e rompido. As comunidades portuguesas emigradas tornaram-se pretexto, veículo e palco dessa diplomacia de veludo. Sobretudo, nada de acordar os fantasmas do colonialismo e do fascismo.


A extorsão dos países dependentes

Editor / Xin Ping — 28 Maio 2023

Paul Singer, magnata da Elliott Capital Management, especialista em extorsão em qualquer parte do mundo

O “mistério” da pobreza recorrente dos países dependentes, ou das suas sucessivas insolvências, fica mais claro quando se entende o mecanismo de extorsão sistemática praticada contra eles pelo capital imperialista. A grande finança tem neste processo um papel determinante. Debaixo da designação respeitável de “fundos de investimento” abrigam-se verdadeiras equipas de profissionais do crime organizado (dotadas de especialistas de toda a natureza: jurídica, financeira, política…) que avaliam as presas e decidem quando e como as atacar. Merecem por isso a designação mais justa de fundos abutres.


A guerra, para além das armas

Editor / Dominique Delawarde — 19 Abril 2023

A velha divisão imperialista do mundo está posta em causa

A insistência com que os governos ocidentais e todos os grandes meios de comunicação falam, ao detalhe, da guerra na Ucrânia (desde as operações militares às minúcias dos armamentos) vai a par de um silêncio comprometido acerca das alterações na paisagem económica do mundo, que a guerra não desencadeou em primeira mão, mas veio incrementar. O potencial e efectivo crescimento do conjunto de países que não alinhou nas sanções do Ocidente contra a Rússia contrasta com o marasmo e o retrocesso verificado nas economias ocidentais, como ainda recentemente o insuspeito FMI não pôde deixar de revelar em números. Que importância tem esta evidência?


O mundo já mudou

Editor / O Comuneiro — 11 Abril 2023

Vida Justa. Manifestação em Lisboa, 18 março 2023. Homenagem à Comuna

À vista de uma catástrofe financeira largamente anunciada, o Ocidente aproxima-se de um abismo de profundidade e de contornos ainda por determinar, mas que não será seguramente coisa ligeira. O desfecho que se pode antever da contenda que se trava entre o sistema imperialista ocidental e o resto do mundo terá certamente uma dimensão histórica. Querer manter equidistância e indiferença perante este confronto, será sinal de inconsciência, de má-fé ou de diletantismo — e só resultará em impotência política. O mundo já mudou, só não se sabe em que exacta medida.


Iraque: o que mudou em 20 anos

Manuel Raposo — 22 Março 2023

2019. Por todo o país, milhares de jovens reclamam trabalho, serviços públicos básicos, fim da corrupção

A invasão do Iraque iniciada a 19 de março de 2003 foi evocada com um certo incómodo por parte das forças que a promoveram e a apoiaram. Com efeito, a mentira, rapidamente desfeita, acerca das armas de destruição massiva (ADM) — que foi o argumento definitivo usado por norte-americanos e britânicos para justificar o ataque — não deixa margem para dúvida acerca da montagem então congeminada para enganar a opinião pública. As torturas praticadas na prisão de Abu Ghraib e o arbítrio de Guantânamo, que dura até hoje, completam o quadro da acção “libertadora” e “democratizadora” levada a cabo pelos EUA.


A exploração de trabalho infantil nos EUA

Editor / Workers World — 17 Março 2023

Crianças migrantes a serem fiscalizadas pela guarda fronteiriça dos EUA no Texas. Só nos últimos dois anos, 250 mil menores não acompanhados entraram nos EUA (New York Times, 25.02.2023)

Como a base da civilização é a exploração de uma classe por outra classe, alertava Friedrich Engels em 1884, cada progresso da produção é simultaneamente um retrocesso na situação da classe oprimida. Poderia pensar-se que, século e meio volvido, tal drama tivesse sido ultrapassado e que o “crescimento económico” proporcionasse óbvio bem-estar às populações colocadas na senda do “progresso”. O dia a dia dos trabalhadores de hoje, em todos os cantos do planeta, desmente tal ideia. Mas a denúncia recente de exploração de mão-de-obra infantil nos EUA vem dar ao caso uma outra dimensão.


Mulheres de todo o mundo, uni-vos!

Editor — 8 Março 2023

No ano passado, de janeiro a novembro, foram assassinadas em Portugal 28 mulheres, 25 delas em contexto familiar ou de intimidade. Nas tarefas domésticas, as mulheres portuguesas arcam com 87% do tempo e os homens 12%. A taxa de pobreza e de desemprego é maior entre as mulheres. (Dados da UMAR e da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, 2022)


A liberdade não está a passar por aqui

Editor — 20 Fevereiro 2023

O presidente da República não achou melhor maneira de marcar o primeiro aniversário da guerra na Ucrânia do que condecorar o seu colega Zelensky com o Grande-Colar da Ordem da Liberdade. 

Não nos devemos espantar. Um regime que assinalou recentemente a morte de Adriano Moreira como se ele tivesse sido um dos maiores vultos da política nacional — sem dizer uma sílaba sequer sobre o seu passado colonialista e fascista, nunca retractado — um regime assim define-se a si mesmo, e dele se pode esperar tudo.


O que nos dizem as sondagens sobre a guerra

Urbano de Campos — 12 Fevereiro 2023

Itália fora da guerra, Itália fora da Nato. Março 2022

Sondagens de opinião feitas ao longo do ano passado desmentem que a população europeia esteja de alma e coração com a política da UE e da Nato a respeito da Ucrânia, como a monocórdica e esmagadora propaganda oficial pretende fazer crer. Ao contrário, revelam uma percentagem muito significativa de pessoas que se manifestam pelo fim rápido da guerra, mesmo que a Ucrânia tenha de ceder território. Esta posição tende a aumentar com o agravamento dos efeitos económicos do conflito e das sanções, e ganha maior expressão sobretudo entre as classes sociais com menores rendimentos.