O nervo da questão

1 Outubro 2018

Em debate com o governo, a 26 de Setembro, o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, defendendo o aumento do salário mínimo, afirmou que “Os baixos salários continuam a ser uma das principais causas de pobreza”. É uma forma nebulosa de pôr a questão. Os baixos salários são apenas o espelho da pobreza; são uma outra forma de dizer que os trabalhadores são pobres. A causa da pobreza é outra: é a exploração do trabalho pelo capital. Esta diferença tem consequências políticas. Se os baixos salários forem tidos como causa da pobreza, então basta lutar (interminavelmente) para que eles subam, basta a acção sindical-reivindicativa — que, na melhor das hipóteses, conseguirá apenas reduzir temporariamente o grau de exploração e atenuar a pobreza. Se, pelo contrário, os baixos salários forem tidos como efeito da exploração, então a luta dos trabalhadores tem de ser orientada para lhe pôr fim. E esta será então uma luta política, não apenas reivindicativa, que reclama uma consciência de classe própria, que significa confronto de classes — de natureza revolucionária porque aponta a necessidade de colocar os trabalhadores no poder e um outro Estado.
Dir-se-á que o debate com o governo não era o lugar para tais rigores. Certo. Mas a acção concreta do PCP, à sombra de um eterno “realismo”, nunca toca no nervo político da luta de classes.


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