Capitalismo e desigualdade

Pedro Goulart — 17 Maio 2018

Em 2017, os CEO (1) das empresas do PSI 20 (2) ganharam, em média, 46 vezes mais do que o custo médio que as suas empresas despenderam com os trabalhadores, enquanto, há três anos, essa diferença era de 33 vezes. Isto é, em média e em 2017, um assalariado teria de trabalhar 46 anos para obter o mesmo valor monetário que o CEO consegue em 12 meses.

O maior contributo para esse fosso foi dado pela empresa dona do Pingo Doce, a cujo presidente executivo foi pago, em 2017, mais de dois milhões de euros. Enquanto o custo médio com os trabalhadores desta empresa foi inferior a 13 mil euros. Assim, Pedro Soares dos Santos recebeu mais de 155 vezes do que os trabalhadores que dirige.

Também, António Mexia, o CEO que mais ganhou na bolsa portuguesa, recebeu 2,29 milhões, mais 39 vezes do que o custo médio da EDP com cada trabalhador.

Mas não foram apenas as remunerações dos responsáveis máximos destas empresas, de que Soares dos Santos e António Mexia são dois exemplos significativos, a crescer. As remunerações dos demais elementos dos conselhos de administração também aumentaram. No total, estes elementos conseguiram 57,5 milhões de euros, mais 17 milhões do que há três anos.

Segundo um relatório da OCDE, em que Portugal se destaca por uma grande desigualdade, entre 2007 e 2011, a maioria dos países desta organização registou um aumento na desigualdade do rendimento disponível, mantendo o fosso entre os mais ricos e os mais pobres ao nível mais alto dos últimos trinta anos, isto é, com os 10% mais ricos a registarem, em média, 9,6 vezes o rendimento dos 10% mais pobres. E, segundo o INE, em 2013 e em Portugal, os 10% mais ricos tinham, em média, um rendimento 11 vezes superior aos 10% mais pobres.

Expor ou denunciar estes factos, como fazem vários meios de comunicação social, ou propor alguns remédios paliativos, como sugerem alguns analistas ou organizações humanitárias, pode revelar boas intenções, ou, simplesmente, visar a procura de alguma melhoria das coisas dentro do sistema, para que o essencial deste permaneça na mesma. Mas não visam, certamente, uma verdadeira solução para o problema da desigualdade. A distribuição desigual da riqueza produzida resulta do próprio fundamento de toda a sociedade capitalista: a exploração do trabalho assalariado. Enquanto dominar o modo de produção capitalista à escala global a desigualdade persiste.

(1) CEO é o Director Executivo da empresa, sendo a pessoa com maior autoridade na sua hierarquia operacional. É responsável pelas estratégias e pela visão da empresa.
(2) PSI-20 é o principal índice de referência do mercado de capitais português.


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