Refugiados: a hipocrisia da União Europeia

Urbano de Campos — 31 Janeiro 2016

sirios-refugiadosA anunciada política da União Europeia de “portas abertas” para os refugiados durou poucas semanas. Muitas fronteiras se fecharam entretanto. O acolhimento faz-se agora sob estreita vigilância e com reservas crescentes da parte das autoridades nacionais. Dezenas de milhares são ameaçados de expulsão em massa pelos países aonde conseguiram chegar, casos da Suécia e da Finlândia. Os que insistem, vêem os seus bens pessoais confiscados a pretexto de “financiar” os custos de “integração”, como sucede na Suíça, na Dinamarca e em vários estados alemães. A par desta viragem, há uma outra realidade que ganha peso: a hostilidade e os ataques aos refugiados por parte das populações residentes.

Na Alemanha, onde terão entrado este ano perto de um milhão de pessoas (40% vindas do Kosovo e da Albânia, esses paraísos democráticos criados pela UE e pelos EUA), têm-se sucedido os ataques aos refugiados. A emissora Deutsche Welle — citando o ministro alemão para os refugiados — deu conta de 576 ataques de Janeiro até fim de Outubro de 2015, e de 198 em 2014. O jornal Die Zeit refere 222 ataques a pensões que alojam refugiados, incluindo 93 fogos-postos, causando 104 feridos.

Grupos de 20 a 30 atacantes, armados de tacos de beisebol, espancam pessoas isoladas, cercam locais de alojamento, atiram engenhos explosivos pelas janelas. Edifícios destinados a refugiados, mas ainda não ocupados, são “preventivamente” incendiados. A par destas acções violentas, têm crescido as manifestações “pacíficas” de respeitáveis cidadãos contra os refugiados.

Diz-nos um leitor residente na Alemanha que “nenhuma voz se ouve, nem entre os políticos, nem entre os jornalistas, nem entre os cidadãos comuns com a indignação que seria devida”.
De facto, o Presidente da República alemão, na sua recente mensagem de Natal, referiu de forma branda a situação. Limitou-se a dizer que os ataques “merecem a nossa repulsa e devem ser castigados”, e propôs como medidas “um debate aberto” sobre a questão — avisando à cautela que “a capacidade de acolhimento” do país “é limitado”. Furtou-se portanto a usar o termo adequado nestas circunstâncias: terrorismo organizado de alemães contra refugiados indefesos — porque “terrorismo” é acusação reservada, obviamente, aos refugiados. E deu o sinal de que a política de portas abertas foi afinal um toque de clarim estridente mas curto.

Ao mesmo tempo que se vangloria da sua “tradição de acolhimento”, a UE segue de facto uma política de manter as ondas de refugiados do Médio Oriente fora das suas fronteiras, não se distinguindo nisso do que fazem, de forma apenas mais despudorada, os países (como a Hungria ou a Macedónia) que levantaram barreiras de arame farpado nas suas fronteiras e perseguem à cacetada os que tentam passar.

Enquanto milhões de refugiados sírios, iraquianos, afegãos, ou líbios — todos eles oriundo de países destruídos por guerras promovidas pelos EUA e a UE — permanecerem no Líbano, na Jordânia ou na Turquia, em condições infra-humanas, longe dos holofotes, ou morrerem afogados no Mediterrâneo, a UE pode continuar a representar a sua rábula de potência respeitadora dos “direitos humanos”.


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