A irmandade

Urbano de Campos — 20 Julho 2015

schulz&ciaA campanha contra o Não dos gregos, antes e depois da votação, só pode ser classificada como miserável. Entre os mais destacados participantes contam-se, como se sabe, os “socialistas” alemães do SPD. Martin Schulz, presidente do parlamento europeu e Sigmar Gabriel, vice-chanceler, ministro da economia e líder do partido primaram pela chantagem.

Dizendo, na manhã do referendo, que os gregos iriam ficar sem dinheiro se votassem Não, Schulz pintou o seguinte cenário: “os salários não serão pagos, o sistema de saúde deixará de funcionar, a rede eléctrica e os transportes públicos irão abaixo, e eles [os gregos] não serão capazes de importar bens vitais porque não os poderão pagar”. Na esperança de que o Sim ganhasse, revelou o jogo alemão ao propor a demissão do governo do Syriza e a nomeação de um governo de tecnocratas, o qual — antes de novas eleições! — assinaria o acordo que os credores da Grécia pretendiam.

Gabriel, por seu lado, sabido já o resultado do referendo, acusou os gregos de “cortarem as pontes para um entendimento” e declarou alto e bom som que a solução era cessar o financiamento à Grécia e atirá-la para fora do euro.

Estiveram assim perfeitamente ao nível da ala mais à direita do partido de Merkel — o CSU da Baviera — cujo líder, Andreas Scheuer, tratou os dirigentes gregos como “chantagistas esquerdistas” e rematou uma declaração pública, feita após o referendo, com um raivoso “Boa noite, Grécia!”.

Esta malta tem como fervorosos adeptos entre nós gentinha como Passos Coelho, Portas ou, na parte baixa da escala, Paulo Rangel (deputado europeu do PSD que factura mais de 10 mil euros extra por mês).
E tem por camaradas nacionais os Costas, os Ferros, os Seguros, os Vitorinos, os Assis — que se sentiram um pouco incomodados com as declarações trogloditas dos sócios alemães, mas são incapazes de denunciar os seus propósitos imperialistas.

Há um receio comum que aflige todos eles: o destino dos irmãos da Nova Democracia e do Pasok que o povo grego tratou, por duas vezes em seis meses, como lixo.


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