Tempo perdido

José Borralho — 3 Novembro 2014

bandeira-vermelhaEstaremos perdendo tempo e energias se nos concentrarmos a criar uma corrente de ideias que se reclame dos interesses do proletariado e se recuse a criticar, sem tibiezas, as causas da derrota do movimento operário em toda a linha, quando os comunistas de então tiveram ao alcance da mão a libertação das garras da exploração de mais de metade da população mundial.
Repetir as receitas do passado, significa miopia política e em última análise colaboração com o inimigo de classe.

É preciso reconhecer que existiu um desvio ao marxismo-leninismo consubstanciado na elaboração de um programa político de frentes populares, em que o proletariado foi o sacrificado para salvar o mundo do perigo fascista.

Sendo necessária uma resposta ampla das massas populares ao fascismo, contudo, a política das frentes populares aplicada relegou a revolução proletária para as calendas e coincidiu com as transformações sociais a partir dos anos 30 do séc. XX, que elevaram o papel das classes pequeno-burguesas em ascensão. Quer na URSS, pelo explosivo desenvolvimento das forças produtivas e a consequente entrada em cena de uma enorme camada de quadros; quer nos países de economias mais avançadas, com o desenvolvimento das novas tecnologias; quer também pela evolução dos movimentos de libertação nacional que tomaram o rumo burguês.

As ilusões na conversão à esquerda da social-democracia criaram o ambiente próprio para o alastramento do revisionismo, aberto à passagem pacífica da sociedade capitalista para um sistema democrático de nacionalizações.

A sufocação dos sovietes e dos organismos de classe pelo partido, revelou uma concepção errada do papel de direcção política da vanguarda, que destruiu e matou a democracia de base em favor dos interesses de uma minoria usurpadora.

Uma corrente comunista que se queira limpa do estrume do passado, na verdade, trairá os interesses do proletariado (a maioria) se ajudar o capital a recuperar a economia capitalista da crise, salvando-lhe a dívida, mesmo que essa corrente defenda a democracia, o voto, os interesses imediatos dos trabalhadores e busque outra divisa monetária sem ser o euro.

Uma corrente de ideias de esquerda, só trilhará os rumos da vitória se, partindo dos interesses do proletariado, elaborar um programa mínimo das reivindicações imediatas na base do confronto de interesses do trabalho contra o capital, assuma com coragem que a actual crise do capitalismo só se resolverá a favor dos trabalhadores se for feita uma ruptura com o sistema capitalista e, sem ilusões, recuse participar na recuperação da crise capitalista, elabore um programa claro de combate ao capitalismo enquanto sociedade a depor e a substituir pelos trabalhadores no poder.

A partilha do poder de estado, da esquerda comunista com os partidos burgueses ou pequeno-burgueses, representará sempre a derrota do proletariado em favor da burguesia.

Não podemos perder mais tempo com experimentalismos e com cantatas à democracia burguesa que nos transforma as vidas num inferno. Creio que o documento Enfrentar a crise, lutar pelo socialismo – Uma perspectiva comunista, é um bom começo para trilhar caminhos que ajudem a superar a crise de ideias no campo comunista, na esquerda e no movimento operário.


Comentários dos leitores

António Alvão 4/11/2014, 0:13

"Proletários de todos os países, uni-vos, suprimam os exércitos, as policias, a produção de guerra, as fronteiras, o trabalho assalariado.
As classes dirigentes tremem com a ideia de uma revolução comunista. Os proletários nada têm a perder a não ser as cadeias que os amarram. Têm mesmo um mundo a ganhar" - Karl Marx.
"A partir do momento que é a maioria do povo que domina ela própria os seus opressores, já não há necessidade de um "poder especial" de repressão! É neste sentido que o Estado começa a extinguir-se. Em vez de instituições especiais, de uma minoria privilegiada (funcionários privilegiados, chefes do exercito permanente). Cujos vencimentos devem ser reduzidos ao nível dos salários dos operários". - Lenine.
Por o comunismo nunca ter existido, não se deve a Marx nem a Lenine, mas sim ao banditismo de mal-feitores que se serviram dos nomes destas duas figuras para alcançar o privilegio e a ditadura pessoal. A história deu razão a Bakunine e aos anarquistas da AIT. Bakunine previa para futuro esta burla ideológica do comunismo.
A sociedade humana só terá remédio quando deixar de ser de competição e passar a ser de cooperação, caso contrário iremos ter sempre as injustiças e o caos, entre tudo e todos. Abraço ao Pedro e companhia...

afonsomanuelgonçalves 21/11/2014, 14:36

O milagre da cooperação por obra e graça do espírito santo está finalmente desvendado graças à nossa vidente de Fátima. A luta de classes é extinta por milagre e os homens e mulheres cooperantes abraçam-se e beijam-se como se fossem irmãos de sangue


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