Largo apoio à greve geral, 14 Novembro

Urbano de Campos — 12 Novembro 2012

Poucas greves gerais terão tido um sentido político tão marcado como irá ter a de 14 de Novembro. As razões parecem evidentes.
A crise económica redundou numa crise política e governativa. Não há soluções à vista no quadro de “recuperação” que as classes dominantes defendem e tudo se encaminha para um agravamento da mesma política de austeridade. O crescendo dos protestos de massas coloca nos pratos da balança uma força de rua com que o poder não contava ainda há dois meses e que rompe os limites da tradicional oposição parlamentar. Em muitos sectores populares as exigências ultrapassam a questão reivindicativa imediata e colocam em causa o regime político, a falta de democracia, etc. Tudo se encaminha, por estes factos, para uma confrontação cada vez maior entre os interesses do Capital expressos nas medidas de austeridade e os interesses da massa trabalhadora.

As adesões à greve geral que têm vindo a declarar-se mostram que o movimento de protesto tem largo campo e boas razões para se ampliar. Nomeadamente o apoio de sindicatos não filados na CGTP (que tomou a iniciativa de convocar a paralisação) e de sectores profissionais muito diversos são exemplo de como a política de austeridade está a ser rejeitada e a mobilizar opositores – já sem a condescendência e a passividade de há meses atrás.

O papel do sindicalismo amarelo

Neste processo, o sindicalismo amarelo da UGT, ficou mais desmascarado. A figura de palhaço do seu secretário geral, João Proença – que começou por recusar a greve geral de dia 14 argumentando que não tinha “objectivos concretos” por ser “meramente política”, para finalmente vir dizer que participava “pessoalmente”, obedecendo à decisão do seu sindicato – é a demonstração do papel de sabotadores que os dirigentes da UGT têm desempenhado na luta contra a ofensiva patronal.

É bom recordar, para lá deste último episódio grotesco de Proença, o apoio de facto que a UGT deu às medidas de austeridade ao assinar, em Janeiro passado, um acordo com o governo na Concertação Social que mereceu rasgados elogios do patronato e permitiu a Passos Coelho vangloriar-se de que a sua política gozava de amplo “apoio social”. Lembremos ainda que, na sequência disso, a UGT se recusou, também então, a apoiar a greve geral de 22 de Março que protestou contra tais medidas.
Todos os protestos que, pelo menos, se desenrolaram durante o último ano, particularmente as grandes manifestações de Setembro, são assim protestos que se erguem não só contra o governo e o patronato, mas também contra estes parceiros especiais do governo e do patronato.

É preciso muito mais

Estes são alguns dos factos que, no plano nacional, foram evidenciados na sequência das mais recentes movimentações de massas. As manifestações de 15 e 29 de Setembro não apenas trouxeram à rua muito mais gente que anteriormente, como mostraram gente muito mais descontente com a situação e empenhada em fazer-se ouvir. O alvo dos protestos foi claro: não à austeridade, não ao governo, não à troika. É esta a consigna do momento.

Importa agora que, a partir destes antecedentes favoráveis, a greve geral impulsione ainda mais os protestos. Nas ruas, mas também nas empresas e nos bairros. É esse o seu principal papel.
Na verdade, a ofensiva patronal e governamental não parou, como mostram as medidas contidas no Orçamento de Estado. O susto que as classes dominantes apanharam com as manifestações de Setembro não bastou para travar a política de ataque ao Trabalho. Esta evidência deve ser retida – é preciso muito mais para que possa ser posto travão à austeridade. Mas esse muito mais está ao alcance do movimento dos trabalhadores.

Povos da Europa, uni-vos!

Outro factor a destacar é a convergência, no mesmo dia, de greves e manifestações nos quatro países do sul da Europa mais atingidos pela crise. Além de Portugal, também em Espanha, na Itália e na Grécia decorrerão greves gerais motivadas pelo mesmo combate às políticas de austeridade.
Em solidariedade, os movimentos sindicais de diversos outros países organizam acções de protesto no mesmo dia ou em dias próximos, nomeadamente: Alemanha (comícios em 12 cidades), Áustria, Bélgica, França (manifestações em todo o país), Eslovénia, Holanda, Reino Unido, República Checa, Roménia (acções em todo o país) e Suíça.

É a primeira vez que um tal movimento se dá, e com um objectivo comum: a recusa da política de austeridade imposta pelas principais potências europeias sobre os países “devedores” a pretexto das dívidas dos Estados.
A Europa precisa da unidade dos seus povos na luta contra o capitalismo. O protesto comum a realizar no dia 14 pode ser o primeiro de outros passos no sentido da unidade dos trabalhadores de modo a fazer frente à unidade do Capital. Saudemos portanto este primeiro gesto de unidade popular.
Não terá sido em vão o apelo lançado pelos manifestantes gregos, meses atrás: “Povos da Europa, uni-vos!”.


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