Passos Coelho, chefe de um governo burguês, rasca e autoritário

Pedro Goulart — 9 Agosto 2012

Não nos cabe escolher entre os diversos governos que a burguesia impõe aos trabalhadores. Mas a análise das debilidades desses governos e a denúncia paciente e sistemática das suas malfeitorias são úteis ao desenvolvimento das lutas de classe do proletariado. E é da natureza destes governos – mais ou menos “dialogantes”, mais inteligentes ou mais rascas – todos procurarem encontrar a cada momento uma forma eficaz dos capitalistas extorquirem a mais valia aos trabalhadores. Por isso, as trapalhadas, as afirmações ridículas, a ignorância e a boçalidade evidenciadas por vários ministros e secretários de estado de Passos Coelho não nos devem distrair dos objectivos centrais deste governo – a intensificação da exploração das classes trabalhadoras (recorrendo a todos os meios) para que sejam estas a pagar uma ultrapassagem provisória da crise capitalista.

No desempenho das suas funções de estado, os governantes burgueses muitas vezes evitam mostrar o seu verdadeiro papel de fiéis gestores do capital. Mas Passos Coelho e os seus ministros não disfarçam muito. Numa recente visita à Unidade Especial de Polícia, em Belas, o chefe do governo “assistiu a vários exercícios, como um assalto terrorista a uma embaixada, uma tomada de reféns num edifício urbano e um atentado contra uma alta entidade, envolvendo uma manifestação”. E, compenetrado do seu papel, Passos Coelho não hesitou em assumir simbolicamente aquilo que é uma das funções do aparelho de estado burguês – a função repressiva – enfiando na cabeça um boné de polícia, que lhe assentava bem.

O chefe do governo dava, também, simultaneamente, um sinal de que ele e a sua gente estão dispostos a ir muito longe na defesa dos interesses de classe da burguesia, se necessário com amplo recurso à violência policial e a todo o aparelho repressivo do Estado contra os trabalhadores e os pobres. Os violentos espancamentos em recentes manifestações de Lisboa, o cerco e as demolições no Bairro de Santa Filomena, o cerco e prisões no Casal da Mira, o tiro policial ao ladrão, em Campolide, são alguns exemplos das intervenções “musculadas” que, certamente, irão ser alargadas. E o dinheiro que dizem faltar para sectores essenciais como a saúde, educação e segurança social, vai continuar a jorrar para as polícias, para segurança do patronato e dos seus homens de mão.

Os explorados e oprimidos vivem hoje tempo difíceis, que exigem um trabalho sério e persistente de todos aqueles que se opõem à ordem burguesa. Não tenhamos ilusões: não será com anedotas ou lamúrias, com algumas indignações avulsas nos blogues ou no Facebook , com algumas práticas amadorísticas, que se irão resolver os problemas que hoje se nos deparam. O nosso presente e o nosso futuro estão intimamente ligados ao evoluir da situação europeia e mundial. E só um proletariado consciente, organizado e combativo, poderá superar realmente a actual e profunda crise do capitalismo, entregando o poder económico e político nas mãos das classes trabalhadoras e do povo. Para isso, em Portugal, temos de ser capazes de fazer a nossa parte.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 10/8/2012, 8:55

O autor do artigo toca num ponto que tem sido o nó-górdio de toda a debilidade que as lutas dos trabalhadores pelos seus direitos encontram pela sua frente. Pena é que não descubra ou não mencione a raíz desse bloqueio. De facto o recurso à anedota só enfranquece a luta e garante à burguesia a continuação da espoliação até ao infinito. Manter o problema no plano da vontade em abstracto não chega e demonstra não a capacidade mas a incapacidade de fazer o que quer que seja.
A Grécia já nos deu um bom exemplo dessa incapacidade e nós seguimos-lhe o gólgota.


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar