Obrigado, Mr. Krugman

Pedro Goulart — 8 Março 2012

Podem os trabalhadores portugueses ficar tranquilos. Para se tornarem competitivos, não terão de baixar os salários até ao nível dos chineses: basta que nos próximos cinco anos lhos reduzam apenas 20 a 30% em relação aos salários dos trabalhadores alemães. Para, assim, poderem competir a nível europeu. Não deve haver outra saída. Os custos de contexto, a organização da produção, os lucros dos capitalistas, parecem aqui coisa menor. Ideia agora reafirmada, pesarosamente, pelo economista Paul Krugman, que procura ser “visto como amigo dos trabalhadores”.

Aliás, estes “ajustamentos” nos salários seriam extensíveis a vários outros países periféricos (onde houve diminuição de produtividade em relação ao centro) da Europa. Esta, uma já velha e brilhante ideia defendida pelo economista americano, prémio Nobel da Economia e agora doutorado honoris causa pelas Universidades Clássica, Técnica e Nova, de Lisboa.

Percebe-se mal como Krugman, assim como alguns políticos e economistas portugueses de pendor keynesiano (também eles amigos dos trabalhadores!) conjugam estas ideias do economista americano com as suas críticas em relação à austeridade e à forte disciplina orçamental, sem investimento, impostas pela Alemanha e pelas troikas. Talvez, uma afirmação de Keynes, de 1931, ajude a esclarecer estas contradições: “É possível que me influencie aquilo que pareça ser a justiça ou o bom senso, mas a guerra de classes encontrar-me-á ao lado da burguesia educada”. Lamentável é que esta visão do mundo de economistas e políticos, que, objectivamente, pretendem ou aceitam que sejam os trabalhadores a pagar a crise do sistema, possa ainda ser considerada por alguns uma visão de esquerda.


Comentários dos leitores

Ismael Pires 12/3/2012, 0:30

É só um exemplo do que os cortes estão a provocar
http://comunidade.sol.pt/blogs/contramestre/archive/2012/03/10/talvez-a-queda-nos-atendimentos-de-urg_EA00_ncia-explique-o-aumento-de-mortalidade.aspx


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