Cresce a vaga de lutas

Manuel Raposo — 15 Janeiro 2012

ceramica_valadares_72.jpgOs anúncios de fim da crise e de retoma económica estão a revelar-se como uma burla mais cedo do que se esperaria. A virtude da austeridade mostra ser apenas a de reclamar mais austeridade. Os resultados estão à vista, escassos dias depois da aprovação do Orçamento do Estado: mais défice que servirá para justificar mais medidas punitivas dos trabalhadores. Só uma resposta pode trazer resultados úteis: a luta de todos os sectores atingidos.

Nos últimos dias, mais notícias de despedimentos mostram que nada vem a favor dos trabalhadores: a construtora Soares da Costa viu aprovado pelo governo um pedido de despedimento colectivo que pode atingir mil trabalhadores (num sector que tem já 90 mil desempregados e pode ter a breve trecho mais 30 mil); a Salvador Caetano anda a mandar cartas aos trabalhadores para rescindirem contratos (depois de ter anunciado parcerias de negócios com a China); a Cerâmica Valadares queixa-se de falta de investimento e faz pagar a factura aos 420 trabalhadores a quem não paga desde Novembro.
Acumular forças para travar a ofensiva só se conseguirá com lutas sucessivas, cada vez mais unidas e menos condescendentes com os argumentos dos patrões e do poder.

Salários em atraso na Cerâmica Valadares

A Fábrica de Cerâmica Valadares (FCV), em Gaia, só no início de Janeiro acabou de pagar os salários em atraso desde Novembro. Os de 420 trabalhadores continuam sem os salários de Dezembro e sem subsídio de Natal.
A empresa queixa-se de não ter crédito bancário nem investidores interessados, apesar de ter encomendas de “milhões de euros”, nomeadamente de vários mercados externos para onde exporta (Europa, Dubai, Arábia Saudita, Austrália, Coreia).
Mas, enquanto o crédito e os investidores não vêm, são os trabalhadores que pagam a factura na forma de salários atrasados.
Um representante sindical informou que a empresa mandou de férias no início do ano os trabalhadores da produção, a maioria, mantendo em laboração apenas os funcionários do armazém, com o argumento de que não há trabalho – para além das vendas dos artigos em armazém, como é bom de ver.

A comissão de trabalhadores da FCV mantém contactos com a Câmara de Gaia e com a administração da empresa. De acordo com um sindicalista, se o vencimento de Dezembro e o subsídio de Natal não forem pagos, os trabalhadores entrarão em greve e farão uma marcha até à Câmara de Gaia. A autarquia considera que o encerramento da empresa seria um desastre social para o concelho.

Portuários: 5 dias de greve

Os trabalhadores de vários portos iniciaram à meia-noite de dia 8 uma greve de cinco dias, em apoio dos 61 colegas do porto de Aveiro que estão ameaçados de despedimento, uma vez que a Empresa de Trabalho Portuário de Aveiro declarou insolvência pelas mesmas razões de sempre: “dificuldades financeiras”. Nenhuns serviços mínimos serão assegurados.

Os patrões de várias das empresas atingidas pela greve e os administradores portuários vieram logo falar “dos prejuízos de dezenas de milhões de euros” causados pela paralisação. Este argumento tem-se multiplicado em relação às lutas que têm sido levadas a cabo nas últimas semanas – trata-se de mais uma versão do processo de coacção exercido sobre os trabalhadores quando eles se decidem a defender direitos.

Patrões e governo não só aplicam como bem querem as medidas de austeridade como ainda pretendem que as vítimas as aceitem sem resposta. A greve dos portuários não só representa uma acção de resistência contra essas medidas como leva a cabo uma importante missão dos sindicatos: a solidariedade e o apoio mútuo entre os trabalhadores.
O pré-aviso de greve, apresentado pela Confederação dos Sindicatos Marítimos e Portuários (Fesmarpor), abrange os trabalhadores dos portos de Viana do Castelo, de Aveiro, da Figueira da Foz, de Lisboa, de Setúbal, de Sines e do Caniçal (Madeira).

Outras empresas de trabalho portuário (ETP) podem vir a seguir o exemplo da de Aveiro. A lei que rege as ETP assegura que a contratação de mão de obra seja feita através delas, com a participação dos sindicatos. O governo está a preparar alterações à legislação que põem em causa o papel das ETP e portanto dos sindicatos. É esse também o sentido da greve nacional desencadeada pela Fesmarpor, que representa cerca de 600 trabalhadores dos portos de todo o país.


Comentários dos leitores

A. Poeiras 17/1/2012, 12:07

Mesmo fora das empresas aumentam os focos de resistência: está em acto uma plataforma aberta contra o desmantelamento do SNS. Tem um manifesto (em fase de recolha de apoiantes) e duas acções em curso; outras se seguirão.
está tudo em http://www.manifestosns.tk/
qualquer pessoa pode assinar, divulgar e participar

J.M.Luz 18/1/2012, 17:52

Toda a divulgação e apoio às lutas dos trabalhadores é importante e por isso dou todo o apoio a este texto, só não se compreende é a razão porque o "MV" divulga com a justa antecedência a manifestação de dia 11/2 promovida pela CGTP, e ao mesmo tempo não divulga a que está convocada para dia 21 de Janeiro com os mesmos objectivos políticos e que se insere na perspectiva do MV, quando diz "Acumular forças para travar a ofensiva só se conseguirá com lutas sucessivas, cada vez mais unidas e menos condescendentes com os argumentos dos patrões e do poder". Concerteza que se tratará de um lapso, ainda a tempo de ser corrigido.
Um abraço e saudações revolucionárias.


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