D. Policarpo e a troika

Pedro Goulart — 4 Outubro 2011

policarpo.jpgO agudizar da crise capitalista tem, também, a vantagem de obrigar à clarificação das posições dos diversos intervenientes na luta de classes. É bom que os trabalhadores, aqui particularmente os crentes, saibam com quem podem contar. Vem isto a propósito de uma recente entrevista de D. José Policarpo ao Jornal de Notícias, onde este faz afirmações que revelam bem, a quem ainda tivesse algumas dúvidas, de que lado da barricada se encontra o chefe da Igreja Católica em Portugal.

Afirma D. José: «O nosso ministério é de uma natureza, de uma ordem que pode ficar prejudicada se nós nos metermos na política directa como ela é feita hoje. Ninguém sai de lá com as mãos limpas». Dito assim, com toda a generalidade, é uma tirada fascistóide. “Esquece” que os que se bateram e batem diariamente contra a ordem capitalista vigente, os que não são beneficiários nem cúmplices dessa ordem opressiva, também fazem política. Simplesmente, outra política.

O cardeal de Lisboa perorou também sobre a necessidade dos portugueses ajudarem o Governo a encontrar soluções para sair da crise: “A ideia de que a função dos portugueses é dizer mal dos governos. Não pode ser… O problema não se resolve se cada um puxa a brasa à sua sardinha”, disse, acrescentando que “se nós colaborarmos todos, o próprio Governo encontrará soluções mais adaptadas”. É a já velha e conhecida história da necessidade de colaboração de classes entre os trabalhadores e patronato, entre quem trabalha e quem explora, habitualmente defendida por diversos dirigentes políticos e sindicais burgueses!

D. José Policarpo referiu-se, ainda, ao acordo da troika: “Se precisámos que nos emprestassem biliões temos que aceitar as condições de quem nos empresta e, portanto, esse protocolo é para cumprir. Portugal sempre honrou os seus compromissos”.”O Governo tem uma tarefa muito difícil. Tem um protocolo internacional (o acordo da troika) para cumprir”. Aqui, como já em anteriores declarações, o chefe da Igreja Católica portuguesa subordina-se aos ditames da troika, emparceirando com os partidos – PS, PSD e CDS – que subscreveram o acordo.

Numa situação também difícil para as classes dominantes, o cardeal de Lisboa deixou-se de pseudo – independências e assumiu-se abertamente na defesa dos partidos do capital. Aliás, como o faz a hierarquia da sua Igreja, que procura anestesiar os explorados e oprimidos e levando-os a aceitar pacificamente a perda de direitos e o empobrecimento que o patronato e o governo pretendem impor-lhes.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 6/10/2011, 13:26

Os últimos artigos publicados no jornal MV referem-se a uma apoteótica crise que o capitalismo actual atravessa à escala global. e isso corresponde integralmente à verdade. Mas, sobre o que se passa nas fileiras de combate no movimento social por parte da classe trabalhadora nem uma palavra se vislumbra nos suas clássicas análises. Que D. Policarpo seja a continuidade caricatural do famoso D. Cerejeira, não constitui surpresa para ninguém. Que o prof. catedrático Espada diga os disparates que diz, compreende-se perfeitamente, dado que ele também precisa de se alimentar e vestir como toda a gente, e é essa naturalmente a sua preocupação e, também, o seu dever.
Não será altura de rever toda a matéria e de olhar para dentro de casa e para os seus vizinhos próximos como o Secretário-geral do PCP e da Inter-Sindical?


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