“Crise” da Coreia made in Washington

Workers World / MV (*) — 29 Novembro 2010

hillary-coreia-do-sul.jpgSempre que uma “crise” a respeito da Coreia aparece de repente nos meios de comunicação dos EUA, a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) é apontada como culpada, e como tendo-a originado com alguma atitude irracional. Os factos, ou aquilo que a eles conduziu, são totalmente desprezados. Foi o que sucedeu com o caso ocorrido nos últimos dias. É verdade que a Coreia do Norte bombardeou a ilha de Yeonpyeong em 23 de Novembro. Mas o que aconteceu antes disso?

Cerca de 70 mil militares sul-coreanos tinham sido mobilizados para “exercícios” de guerra, precisamente para a fronteira marítima entre os dois países – que é território em disputa. Os sul-coreanos admitem ter disparado bombas para as águas que a RPDC considera seu território às 13h00 locais, mais de uma hora antes da resposta do norte.

Se a Coreia do Sul e o seu grande patrocinador, os EUA, tivessem querido evitar a confrontação teriam disparado sobre uma área em disputa? Especialmente desde que a Coreia do Norte declarou que as manobras militares “simulavam uma invasão do norte”? A provocação partiu dos EUA e do regime direitista da Coreia do Sul, não da Coreia do Norte.

Este “exercício” com 70 mil tropas está programado para continuar até 30 de Novembro. Apesar de os EUA negarem oficialmente participar nele, a CNN noticiou em 23 de Novembro que “algumas forças dos EUA têm ajudado os sul-coreanos, mas não estavam na zona dos bombardeamentos”. Certo: eram parte da provocação mas estavam fora da cena.

De facto, o exército da Coreia do Sul está intimamente relacionado com o Pentágono dos EUA. Em Julho, os dois países fizeram exercícios conjuntos nas mesmas águas. As manobras envolveram então 200 aviões e 20 navios, incluindo o porta-aviões nuclear USS George Washington.

Agora, os meios de comunicação imperialistas dizem que a “beligerância” norte-coreana desafia a paciência da China. A China tem sido um aliado da RPDC desde 1950 quando as tropas dos EUA invadiram a Coreia do Norte, bombardearam todas as suas cidades e ameaçaram o jovem governo revolucionário chinês com a guerra nuclear.
A China procura uma solução pacífica para o presente conflito, mas vê a beligerância dos EUA em relação à Coreia o Norte como uma ameaça a si própria.

Os especialistas e comandantes militares chineses denunciam os objectivos estratégicos dos EUA na região Ásia-Pacífico, apontando-os como estando por detrás destes exercícios. Designadamente, manter alta pressão sobre a Coreia do Norte e mostrar que os EUA estarão com o Japão e a Coreia do Sul em caso de conflito.

Apontam ainda que um exercício militar como este no Mar Amarelo ajuda os EUA a reunir informação geográfica e militar acerca de alguns dos países asiáticos (entenda-se a China) que rodeiam estas águas.
Neste sentido, o general Ma Xiaotian, vice-chefe do estado maior do Exército Popular de Libertação, expressou a sua “firme oposição” às manobras militares.

Mas, apesar disso, as manobras foram por diante.
Não há portanto nada de irracional na resposta dada pelos norte-coreanos, ou nas preocupações dos militares chineses. Os EUA conduziram uma guerra horrenda contra a revolução coreana de 1950 a 1953 que resultou em milhões de mortos. Ocuparam a Coreia do Sul desde então com uma força militar que ainda tem quase 30 mil homens. E sempre se recusaram a discutir um tratado de paz para pôr fim formal à guerra.

Não é assim surpreendente que a Coreia do Norte saiba que tem de estar pronta a todo o momento para repelir outra possível invasão. Também não surpreende que os líderes chineses fiquem alarmados quando o imperialismo norte-americano – enquanto faz dinheiro na China com investimentos e comércio – tente, não obstante, cercá-la militarmente.

Não nos deixemos cair em mais uma mentira como a do “Golfo de Tonkin” ou a das “armas de destruição maciça”. O inimigo das classes trabalhadores está aqui mesmo, nos gabinetes de direcção e nos bancos do capitalismo norte-americano, que estão a destruir tudo o que o povo ganhou em gerações de luta e trabalho árduo.

(*) adaptado de um artigo de Deirdre Griswold


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