Acesa luta de classes em França

Pedro Goulart — 26 Outubro 2010

manifestation_jeunes_france.jpgNos meses de Setembro e Outubro, milhões de trabalhadores e estudantes têm participado em numerosas greves e manifestações nas ruas de França. Foram várias as jornadas de luta, algumas envolvendo mais de três milhões de pessoas. Em alguns casos, com confrontos entre os manifestantes e a polícia. E com mais de 2000 detidos desde o início da luta. Há muito que a França não via manifestações de tal dimensão.
Operários, funcionários públicos, professores, estudantes liceais e do ensino superior têm vindo a protestar contra a nova lei das reformas do governo de Sarkozy, que decidiu elevar de 60 para 62 anos a idade mínima de acesso à reforma e de 65 para 67 anos o direito a aceder a uma pensão completa. Trata-se de fazer face a um forte ataque do governo a direitos fundamentais dos trabalhadores.

O povo da Revolução Francesa de 1789, da Comuna de Paris (1871) e de Maio de 68 está hoje, em 2010, a dar mais um bom exemplo de persistência e combatividade.
Os sindicatos afirmam que o governo perdeu a batalha da opinião pública e sondagens recentes revelaram que é grande a indignação entre a maioria dos franceses (mais de 70%), particularmente entre os jovens dos 18 aos 24 anos, contra um conjunto de medidas gravemente prejudiciais ao seu futuro.

A maioria das confederações sindicais (CGT, CFDT, FO e CNT), diversas organizações estudantis, com destaque para a UNL, assim como numerosas organizações de base, têm estado envolvidas nas lutas que têm vindo a afectar fortemente o funcionamento dos transportes urbanos, da rede ferroviária regional, dos aeroportos e dos liceus. Com a quase totalidade das refinarias paradas, implicando o encerramento de mais de 4000 postos de combustíveis.

No dia 22 de Outubro, sob pressão do governo de Sarkozy, o Senado francês aprovou apressadamente a nova lei das reformas. Mas não é a primeira vez que leis deste tipo são revogadas em França. Desde que a luta persista firme. E novas jornadas de luta já estão marcadas. Os trabalhadores e o povo francês, com a sua longa experiência, saberão, certamente, encontrar as formas mais adequadas de prosseguir o combate.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 29/10/2010, 3:43

O Povo francês, tendo em consideração que as medidas preconizadas pelo seu governo são muito menos gravosas do que aquelas que em Portugal se verificam, está a fazer uma contestação social muito mais forte e poderosa do que as classes trabalhadoras portuguesas que são, obviamente, muito mais afectadas e atacadas nos seus direitos adquiridos.
E para isso é necessário procurar uma explicação, que não parece difícil de encontrar, e ela não reside, apenas, no diferente espírito de luta que caracteriza a classe trabalhadora da França. Há também que considerar a forma complacente e conformista com que as direcções sindicais em Portugal têm conduzido todo o processo de protesto. As últimas afirmações de C. Silva e J. Proença confirmam isso plenamente e para não caírem completamente no descrédito, têm agora que fazer uma grande encenação "contestatária" em 24 de Novembro e depois cantarem vitória sem obter o que quer que seja.
É o costume...


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