A expulsão dos ciganos de França

François Pechereau — 21 Setembro 2010

romsfrance.jpg“Os ciganos são todos ladrões” – é com fundamento neste preconceito, neste estereótipo, que o governo francês actua desde o início do Verão. A política de expulsões em massa é sustentada por sentimentos profundamente enraizados na sociedade contra os ciganos.
Na Europa, os ciganos foram sempre alvo de dois tipos de política: a rejeição, a expulsão, o extermínio (sob Luís XIV, eram enviados para as galeras) ou a assimilação forçada e, consequentemente, a sua anulação cultural (a sedentarização forçada praticada por José II da Áustria).

Em França, os ciganos aparecem na Idade Média, e desde então foram perseguidos, incompreendidos, atingindo-se o paroxismo da ira durante a Segunda Grande Guerra, quando, a partir de Abril de 1940, ainda antes da invasão alemã, foram construídos campos de “concentração” para acolher os então denominados “gitans” (e não Roms, como actualmente).

É neste longo passivo que hoje se apoia o governo francês para transformar os ciganos no alvo principal e privilegiado da sua nova política securitária. Desta forma, foi pedido aos prefeitos (chefes de departamento, espécie de governadores civis) para destruir 300 acampamentos ilegais até finais de Outubro 2010 e de enviar para a Roménia e a Bulgária os seus ocupantes. A cada adulto expulso são entregues 300 euros, mais 100 euros por criança, quantia para apoio à saída; medida inútil porque dois terços regressam passada uma semana.

No clima actual, reina o sentimento de que a França foi invadida por ciganos, quando são unicamente 15 mil … – contra 700 mil em Espanha, 342 mil em Itália e 300 mil na Grécia.

A população francesa está longe de condenar este tipo de procedimentos, porque sondagens recentes revelam que mais de 48% é favorável à expulsão. Cada um é confrontado com o seu medo dos outros, com o medo da diferença. O governo cavalga esta onda de sentimentos larvares, atiçando o fogo com discursos como aquele em que Nicolas Sarkozy refere “as grandes cilindradas que puxam os atrelados” – e a sua intenção de enviar inspectores fiscais para verificar as situações.

Inquieto com os acontecimentos, o Parlamento Europeu adoptou, no passado dia 9 de Setembro, uma resolução em que pede a Paris a suspensão das expulsões, sublinhando o seu carácter inaceitável. O ministro da imigração, Eric Besson, replicou que a suspensão desta política está fora de questão. A bola está agora nas mãos da Comissão Europeia que poderá apelar ao Tribunal de Justiça Europeu.

A dois anos das presidenciais, Nicolas Sarkozy e o seu governo voltam a apostar naquilo que lhe garantiu a eleição de 2007, a política securitária; a apostar nos medos inconfessáveis e bem escondidos no fundo da sociedade francesa, que esperam somente pela tranquilidade da cabina de voto para voltarem à superfície.


Comentários dos leitores

João Maria 31/12/2013, 22:06

Sempre achei a França o Berço da Democracia,mas essa de expulsar os ciganos foi mal.


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