Falar verdade sobre o Afeganistão sai caro

John Catalinotto, Workers World / MV — 9 Agosto 2010

horst-kohler.jpgUm político imperialista foi obrigado a demitir-se no dia 31 de Maio, não devido a nenhum escândalo nem mesmo por ter sido apanhado a mentir publicamente. Desta vez o presidente alemão Horst Köhler, do Partido Democrata Cristão (CDU), foi obrigado a resignar por dizer a verdade sobre o papel da Alemanha na guerra do Afeganistão.

Ao falar à Deutschlandradio no dia 22 de Maio, durante uma visita às tropas no Afeganistão, Köhler deixou escapar: “Mas a minha opinião é que, acima de tudo, nós começamos a compreender, mesmo a sociedade em geral, que um país da nossa dimensão, virado para o mercado externo e por isso também dependente do mercado externo, tem de estar ciente de que, em caso de dúvida quanto a uma emergência, a acção militar também é necessária para proteger os nossos interesses.” (The Local, 27 de Maio)

Köhler deve-se ter esquecido que não estava a falar só para os seus correligionários da CDU. O lapso de falar verdade provocou uma tempestade nos social-democratas (SPD) e nos Verdes da Alemanha. Eles tinham andado a justificar a intervenção alemã no Afeganistão como necessária para defender a Alemanha do “terrorismo islâmico” assim como os direitos das jovens e mulheres afegãs a frequentarem a escola.

Desde a participação alemã na invasão da Jugoslávia em 1999, estes partidos têm conduzido a Alemanha para guerras, alegadamente em nome dos direitos humanos. As observações de Köhler vieram denunciar esta hipocrisia. Por isso, os seus dirigentes explodiram em críticas violentas ao presidente alemão por falar verdade em público.

O líder do grupo parlamentar do SPD, na oposição, Thomas Oppermann disse à revista Der Spiegel que Köhler estava “a dar cabo da aceitação das missões das Bundeswehr [forças armadas alemãs] no estrangeiro”. Oppermann acusou Köhler de “servir a causa do Partido da Esquerda”, o único partido no parlamento que se tem oposto firmemente à missão no Afeganistão.

As observações de Köhler expuseram a verdadeira razão da Alemanha estar a enviar os seus jovens para as montanhas da Ásia Central, a 5 mil quilómetros de distância. Combater por tal razão viola a constituição da Alemanha. As suas palavras também abriram uma janela sobre toda a máquina do imperialismo do século XXI.

Os grandes países industrializados da Europa Ocidental, América do Norte e Japão, que também são os centros financeiros mundiais, exploram trabalhadores dentro das próprias fronteiras e em todo o mundo. Eles super-exploram trabalhadores e apoderam-se dos recursos dos países oprimidos – a maior parte deles antigas colónias do imperialismo dos séculos XIX e XX.

Economicamente, as regras do comércio e investimento são estabelecidas pelo Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio e outras instituições controladas pelas mesmas grandes potências.

Militarmente, o Pentágono fornece a principal força para impedir os oprimidos de se levantarem e reaverem o que lhes tem sido e continua a ser roubado, e para apoderar-se de mais território e abrir outras áreas para investir.

Ao mesmo tempo que os imperialistas dos EUA querem manter a supremacia militar em todo o mundo, eles exigem que a Europa Ocidental e o Japão paguem parte do preço em dinheiro e tropas. Se assim não for, a Alemanha, a França, a Inglaterra, o Japão, etc., perdem o lugar na mesa onde Washington se senta à cabeceira.

Os planos de “Defesa Estratégica” dos recentes governos [norte-americanos] proclamaram abertamente o objectivo da supremacia dos EUA. O último, que acaba de ser divulgado em 27 de Maio pelo governo democrata, reafirmou esse objectivo. De acordo com a hipocrisia dos EUA, a secretária de estado Hillary Clinton afirmou a importância dos “valores dos EUA”. Se substituirmos “valores” por “lucros” soa mais verdadeiro.

“Travar os Talibãs”, “travar o terror” e “direitos das mulheres” é tudo fumo de propaganda para esconder a verdadeira razão por que a Alemanha, algumas outras potências europeias e o governo dos EUA enviam os seus jovens para matar e morrer no Afeganistão. A verdadeira razão é ganhar mercados para investimentos, explorar mais trabalhadores, controlar os recursos, expandir o comércio, reforçar a submissão na região e manter os lucros a rolar para os bancos.


Comentários dos leitores

A CHISPA ! 11/8/2010, 11:26

O imperialismo não perdoa, a quem mete o pé na possa. Mais um sério aviso, para todos quanto lutam inconsequentemente contra ele.
Emtrem em "imperiobarbaro.blogspot.com" e acompanhem o diálogo em torno do artigo " A caricatura (da realidade).
"achispavermelha.blogspot.com"
"A CHISPA!"


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar