Gregos não cedem

Pedro Goulart — 4 Março 2010

grecia_web.jpgEm 24 de Fevereiro, muitos milhares de trabalhadores, reformados e estudantes manifestaram-se por toda a Grécia. Milhares de fábricas, empresas diversas, locais de construção, portos, aeroportos, hospitais e escolas encerradas ou trabalhando a conta-gotas. Só em Atenas foram algumas dezenas de milhares os manifestantes. Combatem principalmente as medidas de austeridade que o governo grego, pressionado pela Comissão Europeia, quer impor a quem trabalha em nome do défice e da dívida pública.
Ontem, dia 3 de Março, centenas de sindicalistas invadiram o ministério das Finanças e estenderam na fachada do edifício uma faixa onde diziam: “Revoltem-se para que as medidas não sejam aplicadas!”

Entre as medidas previstas contam-se a redução dos salários e pensões, cortes no 13.º e 14.º meses, restrições à contratação, supressão de benefícios fiscais e subida da idade de reforma. E ainda aumentos de impostos e uma subida acentuada do preço dos combustíveis.

Duas semanas antes, em 10 de Fevereiro, a chuva forte não desmobilizara os milhares de trabalhadores e reformados que se manifestavam em apoio a uma greve do sector público. A paralisação afectara, então, os serviços de saúde, os hospitais, as escolas públicas, os caminhos-de-ferro e os aeroportos. E uma das palavras de ordem bastante utilizada pelos manifestantes gregos é bem conhecida entre nós: “Os ricos que paguem a crise”.

O primeiro-ministro Papandreu, do Partido Socialista (PASOK), eleito há meses pelos gregos na esperança de que iria inverter a política de direita do anterior governo, está precisamente a levar a cabo a política que os gregos rejeitaram. Onde é que já vimos isto?

A economia grega, tal como a portuguesa, tornou-se totalmente dependente do capitalismo europeu. E sofre por isso os embates da crise mundial de forma mais brutal do que sucede nos centros capitalistas dominantes. Por esse facto, vemos a Alemanha e a França a ditarem as medidas de austeridade e o rumo político a governos como o de Papandreu e de Sócrates.

Por esse motivo também, a resistência dos trabalhadores gregos vira-se contra a União Europeia e trata o governo Papandreu como um lacaio do capital imperialista europeu. Dizia um dirigente sindical numa manifestação em Atenas: “Isto é uma guerra contra os trabalhadores e nós vamos responder com a guerra, com lutas constantes até que esta política seja deitada abaixo”.

No que nos diz respeito, há lições a tirar quer das medidas do governo grego, quer, sobretudo, da resposta dos trabalhadores gregos, que está a ser determinada e vigorosa.


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