Sinais

19 Fevereiro 2010

Como era óbvio, o governo conseguiu facilmente fazer passar o Orçamento de Estado em acordo com a direita. Tudo para aí apontava desde as eleições de Outubro e só espanta que ainda houvesse alguma esquerda a encenar a pantomima de que poderia forçar-se um acordo parlamentar “à esquerda”.

Não haja ilusões: a esquerda não obteve nenhuma vitória nas eleições que lhe permita vislumbrar uma mudança de rumo político. O que de politicamente significativo se deu foi uma divisão de forças no bloco do poder que fez com que nenhum dos três partidos da direita tenha ascendente suficiente para governar por si. Mas, na previsão deste desenlace, o patronato apontou de imediato a via: forçar os três partidos a acordos que permitam levar por diante a política de ataque ao trabalho.

Pensar o contrário, e admitir a miragem de uma maioria de esquerda com o concurso dos socialistas, é colocar-se na dependência estratégica do PS, condicionando uma mudança de rumo político do país à vontade dos seus dirigentes – vontade essa que está por demais demonstrada. Isto equivale a manter as classes trabalhadoras dependentes de quem sempre provou querer extorquir-lhes tudo o que for necessário para tirar o capitalismo português da fossa.

Inverter a situação não é fácil, mas há sinais do caminho que deve ser seguido. Um sinal, vindo de dentro, foi dado pelos protestos recentes dos enfermeiros, dos funcionários públicos, dos estudantes do básico e secundário e dos mineiros de Neves Corvo. Outros sinais, vindos de fora, foram dados pelas manifestações dos trabalhadores gregos contra as medidas de austeridade do governo (socialista!) de
Papandreu; e, sobretudo, pela greve geral dos trabalhadores turcos, com forte participação dos operários da indústria, em apoio de 12 mil camaradas ameaçados de despedimento e de cortes salariais. Disse em Atenas um sindicalista grego: “Declararam guerra aos trabalhadores, responderemos com a guerra!”


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