Berlim em 2009

Afonso Gonçalves — 28 Dezembro 2009

muroberlim2_web.jpgFoi com festejos e alguma pompa que a burguesia de todo o mundo ocidental, acompanhada pela Rússia e restantes países da ex-URSS, comemoraram os vinte anos do derrube do Muro de Berlim. Em contrapartida os saudosistas da URSS viram nisso um lamentável acto de propaganda do imperialismo.
A festa, no seu balanço final, foi triste e um retumbante fiasco porque, entretanto, decorreram vinte anos cujas expectativas de melhores condições de vida trazidas pela conquista da democracia se transformaram numa enorme desilusão para os cidadãos dos países do leste europeu.

Contrariando as promessas do Ocidente, o nível de vida agravou-se desmesuradamente com o custo dos bens inacessíveis ao poder de compra, com a perda de direitos no domínio laboral e a alienação do direito à saúde e educação. E tudo isto se verificou em todos os países do leste europeu que, alinhados e dependentes da URSS, com ela também se desmoronaram fatalmente. O capitalismo ocidental conseguiu num sopro provocar um terramoto político desfazendo o velho sistema que anos antes disputara a supremacia mundial com o seu principal rival americano.

Mas escamotear a construção do Muro ou tentar branquear a sua existência não parece ser historicamente correcto.

Construído em Agosto de 1961, o muro ficará, talvez, nos anais da história como produto de uma decisão segregadora e discricionária por quem a ordenou. Já em 1956 isso se reflectiu de forma dramática nos bombardeamentos sobre Budapeste que destruiu uma significativa parte da cidade e provocou a morte a centenas de cidadãos, (vide registo documental existente nos arquivos da BBC).

Derrotado o regime nazi pelo exército vermelho em Maio de 1945, tinha sido acordado em Yalta um compromisso entre os Estados aliados acerca do futuro da Nação alemã, do seu território e do seu Estado; a existência de uma Alemanha desmilitarizada e democrática. Só que os acontecimentos precipitaram-se e, segundo Gore Vidal, à revelia do acordado, americanos, ingleses e franceses fundaram nas zonas por eles ocupadas a República Federal da Alemanha em 23 de Abril de 1949, depois de terem cunhado em Berlim o deutche mark e colocá-lo em circulação na cidade.

Respondendo a estas violações, a zona ocupada pela URSS é transformada seis meses depois na República Democrática Alemã, em 7 de Outubro. No entanto, Berlim continuou a ser uma cidade de livre circulação para todos os seus habitantes, tal como viviam em 1948, como se pode ver no filme A foreign affair, de Billy Wilder, realizado com grande realismo em Berlim completamente arruinada pela guerra. Mas, mesmo nessas condições, existiam nessa altura várias redes de comunicações e transportes entre as duas zonas da cidade. E assim a vida dos seus habitantes decorreu livremente durante cerca de 15 anos até ao dia 13 de Agosto de 1961, dia que pesa com alguma perplexidade na consciência traumática de muita gente.


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