Porque se justifica um boicote académico a Israel

Rachel Giora / MV — 18 Julho 2009

boicotisrael_72dpi.jpgRachel Giora, destacada feminista israelita e professora de Linguística na Universidade de Telavive, apela ao boicote contra Israel numa carta, divulgada em final de Maio pelo colectivo “Jewish Peace News”, em que apoia os esforços desenvolvidos pelo Comité Britânico para as Universidades da Palestina. Na sua mensagem, refere alguns dos êxitos do movimento de boicote até à data e explica porque se justifica um boicote académico. Publicamos um resumo das principais passagens.

O movimento de boicote a Israel ganha força. Os exemplos abundam: os trabalhadores portuários na África do Sul recusaram a atracagem de um navio com mercadorias israelitas; membros da União Marítima da Austrália, da Austrália Ocidental, apelaram a um boicote de todos os navios israelitas e de todos os navios que transportem mercadorias com origem ou destino em Israel; uma empresa turca recusou negócios com israelitas “com sangue nas mãos”; jovens em França limparam as prateleiras de uma loja que expunham bens israelitas.

O boicote começa a morder. As mercadorias israelitas estão a perder mercados estrangeiros: 21% dos exportadores israelitas dizem que estão a enfrentar problemas na venda de bens por causa de um boicote anti-israelita, principalmente da parte do Reino Unido e dos países escandinavos.

Israel sofre também um isolamento cultural: equipas desportivas israelitas depararam com manifestações hostis na Suécia, Espanha e Turquia. Dinheiro israelita dado em apoio do Festival Internacional de Cinema de Edinburgo foi devolvido à embaixada israelita.

O boicote académico começado na Grã-Bretanha é talvez a mais sólida forma de boicote cultural ate hoje, ecoando nas universidades e instituições académicas por todo o mundo: a Universidade de Cardiff deixou de investir em Israel; o Comité de Coordenação dos Trabalhadores da Universidade de Ontário (Canadá) incentivou os seus membros a “fazerem fóruns públicos para discutir um boicote académico das instituições académicas israelitas”; a Federação das Universidades do Quebeque juntou-se à campanha; professores australianos apelaram a um boicote das instituições académicas e culturais israelitas; professores norte-americanos fizeram agitação para o boicote académico a Israel.

Há quem pergunte se as instituições académicas não deveriam ser poupadas, por estarem viradas para a investigação, sem ligação com a política do Estado ou das foras armadas. Mas, na verdade, a academia israelita não é diferente das outras instituições e em muitos casos desempenham um papel activo, ou mesmo vital, no apoio às práticas israelitas de apartheid contra os palestinianos. Por exemplo, a direcção de Investigação e Desenvolvimento (I&D) do ministério israelita da Defesa financia normalmente 55 projectos na universidade de Telavive; a I&D militar em Israel não existiria sem as universidades. Elas levam a cabo toda a investigação científica de base que depois é desenvolvida quer por indústrias de defesa ou pelas forças armadas. As pessoas não sabem quão importante a investigação universitária é importante em geral e quanto a universidade de Telavive contribui para a segurança de Israel em particular.

Na dura realidade do Médio Oriente, a universidade de Telavive está na linha da frente do trabalho decisivo que mantém o avanço militar e tecnológico de Israel.
As universidades israelitas dirigem programas especiais para os militares. Ainda recentemente, a universidade Hebraica de Jerusalém ganhou um concurso do ministério da Defesa para definir o Programa Médico Militar. A universidade de Telavive dirige um programa de mestrado em Diplomacia e Segurança na faculdade de ciências sociais, só para citar alguns exemplos.

E apesar do crescente empenhamento dos seus colegas palestinianos, os senados e as direcções universitárias nunca ergueram a voz contra a ocupação israelita do território palestiniano ou contra a opressão dos palestinianos; nem protestaram contra a destruição infligida às instituições académicas palestinianas pelos militares israelitas; nem mostraram nenhuma preocupação ou solidariedade para com os seus colegas palestinianos. E quando houve oportunidade de protestar contra “a política do governo israelita que causa restrições à liberdade de movimentos, de estudo e de instrução, e de apelar ao governo para permitir a alunos e professores livre acesso a todos os campus nos territórios palestinianos, e a autorizar professores e alunos com passaportes estrangeiros a ensinar e estudar sem a ameaça de lhes retirarem os vistos de residência” – apenas muito poucas faculdades (407 em 5000) optaram por assinar esta petição. É a “liberdade académica” uma prerrogativa apenas dos poderosos?

Estas são apenas pequenas provas que testemunham a cumplicidade das instituições académicas israelitas na política de apartheid do Estado contra os palestinianos. À luz do largamente documentado desrespeito de Israel pelas leis internacionais, exercitado na nossa área por tantos anos – que culminou nas duas recentes guerras contra civis no Líbano e em Gaza – cabe-nos a nós, cidadãos do mundo, tentar erguer um espelho diante da verdadeira face de Israel na esperança de que isso lhe dê a oportunidade de escolher a justiça e a paz em vez da ocupação.


Comentários dos leitores

luis t. 19/7/2009, 15:06

E os portugueses, nada! Ainda acham muita graça aos sionistas, até gente de esquerda. Serão lágrimas de crocodilo por causa da Inquisição?
Será que Portugal, depois de apoiar a entrada da Turquia na Comunidade Europeia (caramba, afinal é um diligente e importante membro da NATO!), irá sugerir que Israel entre na CE. É o que me palpita, porque será?


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