Salário justo e desemprego ideal

Pedro Goulart — 21 Outubro 2008

salariojusto72dpi.jpgSão vários os economistas de serviço que se afadigam a demonstrar a bondade do sistema capitalista e a excelência das suas teorias económicas. Daniel Amaral tem sido um deles. E bastante persistente. Ao longo dos anos, em vários jornais e revistas, nomeadamente no Expresso, na Visão e no Diário Económico, tem-se esforçado na defesa da competitividade das empresas, sobretudo através do recurso à diminuição da parcela dos salários no PIB (Produto Interno Bruto). E, apesar das suas boas relações nos meios empresariais, tem procurado fazer-nos acreditar na independência das análises com que habitualmente nos presenteia.

No Diário Económico de 3 de Outubro, e a propósito da luta dos trabalhadores por actualizações salariais, afirma Daniel Amaral ser preferível que ela se desenrolasse no parlamento (em vez da rua), pondo mesmo em causa a razão de ser dessas lutas. E, sem pudor, afirma-se capaz de fazer “um comentário neutro” sobre a situação. Com gráficos e alguns exemplos, procura (para ingénuos) refutar a argumentação de trabalhadores e sindicatos, chegando à iluminada conclusão que, na situação actual, os acréscimos salariais não deveriam exceder os 2-2,5%. E isto conduziria, segundo ele, ao “salário justo”.

Em 10 de Outubro, no mesmo jornal, agora a propósito de competitividade e desemprego, recorre novamente a gráficos e argumentos vários, sustentando que o objectivo não deve ser um desemprego alto ou baixo, mas um desemprego estável em termos de preços. Considera que actualmente em Portugal esse desemprego deveria rondar os 6% que, na sua opinião, seria o “desemprego ideal”. Assim, para este analista, bastaria que o exército operário de reserva se situasse a este nível para que se evitassem desperdícios no sistema produtivo.

Para Daniel Amaral, como, aliás, para muitos outros analistas económicos, que funcionam como porta-vozes dos interesses do patronato, não os preocupa os graves problemas económicos e sociais que atingem os trabalhadores. Estes, que se vêem obrigados a vender a sua força de trabalho, não passam, para alguns fazedores de opinião, de meros utensílios indispensáveis ao bom funcionamento do mercado e ao lucro dos capitalistas.


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