O Primeiro de Janeiro tem edição ilegal

Rui Pereira / Rui Ferreira — 8 Agosto 2008

Após dois meses de salários em atraso, o despedimento ilegal dos jornalistas e outros trabalhadores e um reinício clandestino da edição, às mãos de redactores de um outro órgão de comunicação do grupo, O Primeiro de Janeiro, título com 140 anos de vida na imprensa portuguesa e portuense, tornou-se um exemplo emblemático da selvática gestão capitalista da comunicação social.

Dias depois de terem tido conhecimento do seu despedimento, praticamente ao mesmo tempo que, em editorial, ele era anunciado nas páginas do jornal, os 32 trabalhadores permanecem à porta das instalações e avançam para a busca de soluções jurídicas. O Sindicato dos Jornalistas considerou o despedimento «ilegal» e definiu como de lock-out a situação da empresa que alegou «reestruturação» e quebra de receitas publicitárias para suspender a publicação.

Esses motivos eram anunciados no editorial da última edição corrente do PJ, assinado pela então directora Nassalete Miranda, que garantia o reinício da publicação para o mês de Setembro com a mesma equipa de redactores.

Segredo e golpe

Dois dias mais tarde, porém, o jornal voltava às bancas, sem que, de início os trabalhadores ou os leitores soubessem quem o tinha redigido e editado. Em clima de secretismo, o PJ passara a ser feito por 10 redactores de outro jornal regional, o Norte Desportivo, até aqui um suplemento do PJ, propriedade do grupo Folio-Comunicação Lda., que detém também o título Diário da Manhã, em Lisboa.

Escrevendo em nome da administração, o novo director do PJ, Rui Alas Pereira, anuncia um «novo grafismo» e um reforço da tiragem. Sem nunca aludir ao destino dos jornalistas e trabalhadores de O Primeiro de Janeiro, o director limitou-se a afirmar: «O que mudou foi a empresa que faz o Janeiro. A outra empresa faliu, pelo que me disseram. Estamos a fazer o novo projecto, que tem a ver com a alma do Janeiro, mas não tem nada a ver com a edição do Janeiro como estava a ser feita».

Para além da invocação da «alma», e da vagueza com que cita «terem-lhe dito» que uma empresa falira deixando três dezenas de camaradas de profissão à porta das suas instalações, Rui Alas Pereira disse que este facto era «exclusivamente da responsabilidade da administração», anunciando ao mesmo tempo um jornal «mais atraente, mais consentâneo com os tempos modernos e mais forte».

O Sindicato dos Jornalistas alertou, entretanto, para a «manipulação» a que estariam sujeitos os redactores do Norte Desportivo, que aceitaram, em segredo, redigir e fazer sair a edição do jornal que despediu os seus companheiros. Nenhum destes jornalistas produziu, até agora, qualquer declaração pública sobre a situação.

Não se conhece também, até ao momento, qualquer posição pública do Governo ou de representantes da Entidade Reguladora da Comunicação (ERC).


Comentários dos leitores

fernando catarino 25/10/2009, 20:42

Sou leitor do 1.º de Janeiro desde a banda desenhada do príncipe valente, DESTEMIDO, CORAJOSO e o meu avô ...acompanhou a 2.ª guerra mundial através do 1.º de Janeiro...Há anos tentei entrar em contacto com o 1.º de Janeiro mas parece ser mais fácil falar com o papa. Em vez de floreados, massificação e arquétipos supostamente merecidos pelo tempo e pela arrogância que normalmente tem consequências nefastas, melhor seria se tivessem criado um grupo interactivo com a comunidade em função do espírito que o criou. O problema é que hoje em dia não há empatias estruturais que suplantem o poder do dinheiro quer da administração quer dos funcionários capazes de vender a alma ao diabo por um furo e manter o estatuto de jornalista. Aliás, como na generalidade dos empregos - está-se a comprar e vender vidas em vez de saberes... A chatice é que o diabo escreve torto por linhas aparentemente direitas.
É pena...é pena que coisas que levam anos a construir se destruam num ápice...
Façam deste jornal, O JORNAL, e não mais um que enfia notícias a metro. Há por aí gente com capacidade infinita para fazer coisas e a ansiedade de Ser em vez de ter.
Que pena o meu AVÔ que pena o MEU JORNAL.
Com os melhores cumprimentos,
fernando catarino


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