O prémio

Há concursos na TV em que se responde por telefone. Nunca respondi, nunca sei ao certo a resposta. Eles dão umas dicas, mas nem sempre as apanho. Depois, o preço das chamadas é a doer. Mas desta vez não resisti. Punham palavras no ecrã em que faltavam letras e a gente tinha de adivinhar. Era: _A_ALHAU À _OMES DE _Á. Fácil. E sempre eram 5 mil euros de prémio!

Fui para o telefone (agora é que fazia falta um sem fios). A mulher e os miúdos iam-me dizendo o que se passava no ecrã. Liguei, liguei. Sempre interrompido. Eu em ânsias. Já alguém respondeu?, perguntei. Não. Finalmente, fiquei em fila de espera. Olha, vai agora responder um. Não acertou! Insiste! Uma telefonista perguntou-me o nome e disse-me para aguardar. Quando fosse atendido pela apresentadora tinha de responder sem perder tempo. OK, entendido. Repeti para mim a frase duas, três vezes.

Ouvi lá do fundo da sala a voz da apresentadora: Vamos agora entrar em linha com o nosso espectador senhor Eugénio Silva, que nos fala de Santarém. De Santarém? Querem ver que há outro Eugénio Silva em Santarém… Fiquei ainda mais nervoso. Afinal sempre era eu. Boa noite Eugénio, pronto para responder? Sim, sim, disse eu. Nervosíssimo. Ora então diga lá qual é a palavra – é fácil não é? Sim, sim. É bacalhau à… lagareiro. À lagareiro!? Ó Eugénio que pena, era tão fácil. Fiquei mudo, paralisado. E ela: Bom paciência, fica para a próxima, obrigado Eugénio pela sua participação, o que importa é participar.

Só depois ouvi o vendaval que vinha da sala: ó homem, ó pai, onde é que tu foste buscar o lagareiro? Deixem-me! Não sei o que me passou pela cabeça, com o nervoso. Pronto, deixa lá homem, deixa lá pai, não ganhámos mas também não ficámos mais pobres. Ficámos, ficámos: vais ver quando chegar a conta do telefone. Ela bem dizia obrigado pela sua participação…